Posted: 28 Jul 2010 01:19 PM PDT
Fonte: Yahoo! Notícia
“Às vezes eu tenho esses pesadelos”, disse Ahmed Uleh, seus olhos ocultos atrás de brilhantes óculos de aviador.
“Como se eles quisessem cortar minha cabeça”.
Uleh, de 34 anos, contou ter sido sequestrado na Somália, no ano passado, pelo al-Shabab, o grupo insurgente de militância islâmica que assumiu responsabilidade pela explosão de dois encontros de torcedores de futebol em Uganda, durante a final da Copa do Mundo neste mês, matando 76 pessoas e colocando a África Oriental em alerta máximo.
Os captores de Uleh amarraram suas pernas e braços atrás de uma cadeira, segundo ele, e o espancaram.
Após ser libertado, vestiu a burca de uma mulher, fingindo ser uma mãe carregando um bebê nos braços, e conseguiu atravessar os postos de controle rebeldes até a capital da Somália, Mogadíscio, antes de pegar um voo para o exterior.
Ele chegou à capital de Uganda, Kampala, no ano passado, juntando-se a dezenas de milhares de outros somalis que deixaram décadas de violência para trás, em casa, para viver num país que diplomatas e autoridades da ONU chamam de paraíso dos refugiados.
Agora, esse paraíso está ameaçado.
Desde os ataques, a presença militar e policial tem se intensificado, alguns viajantes do nordeste africanoa foram recusados nas fronteiras e mudanças no protocolo de asilo deixaram somalis, como Uleh, por um fio.
Para piorar a ansiedade dos refugiados, uma agência trabalhando localmente para ajudar a restabelecê-los nos Estados Unidos deixou subitamente o país, gerando temores de que centenas tenham sido abandonados.
Os desenvolvimentos podem colocar em risco a atração de Uganda como um precioso ponto de trânsito, ou destino final, às multidões de pessoas quem fogem dos muitos perigos da Somália – incluindo a brutalidade de grupos insurgentes como al-Shabab.
Segundo as Nações Unidas, a Somália produz o terceiro maior número de refugiados do mundo, atrás do Afeganistão e do Iraque, e Uganda é um abrigo natural para eles.
O país possui uma das políticas de refugiados mais liberais da África, concedendo aprovação a praticamente todas as solicitações de asilo da região, exceto Ruanda, que busca ter seus refugiados devolvidos.
Aqui em Kampala, somalis construíram uma comunidade próspera e assimilada, vendendo ovelhas, arrumando carros, administrando restaurantes e jogando futebol num bairro que muitos daqui chamam de Pequena Mogadíscio.
O próprio Uleh se veste mais como um badalado DJ de discoteca do que um refugiado pobre, e milhares de somalis daqui estão no meio de processos para serem restabelecidos nos Estados Unidos.
A Copa do Mundo, teoricamente, deveria ser uma celebração também para os somalis, já que uma das canções originais do torneio era executada por um popular rapper somali, K’Naan, tornando-o um herói a muitos jovens somalis.
Mas então, no segundo tempo da partida final, três explosões destruíram dois locais populares, onde fãs assistiam ao jogo.
O al-Shabab reivindicou a responsabilidade mais tarde naquele mesmo dia, e para a comunidade somali de Uganda, uma nova realidade surgiu rapidamente.
A polícia parou de registrar novos refugiados imediatamente após os ataques.
Desde então, o processo reabriu com novos regulamentos e houve um dilúvio de inscrições, mas líderes comunitários afirmaram acreditar que muitos estavam temerosos demais para se apresentar.
Eles dizem que um calafrio desceu sobre as antes amigáveis ruas de Kampala.
Na semana passada, um homem eritreu foi espancado até a morte por uma multidão que, aparentemente, pensou que ele fosse somali.
Líderes comunitários dizem que mais de 20 somalis foram presos na vizinhança, incluindo um popular homem de negócios, e muitos mais foram capturados para interrogatórios.
“Nós colocamos vigilância em todas as esquinas, mas nosso povo é muito hospitaleiro”, disse Musa Ecweru, ministro estadual para desastres de Uganda.
“Não queremos xenofobia aqui.
Há muita coisa acontecendo no momento”.
Refugiados em Pequena Mogadíscio possuem uma preocupação maior espreitando suas mentes – o sonho da América.
Na semana passada, a Joint Voluntary Agency, que processa os pedidos de restabelecimento de refugiados em nome do governo dos Estados Unidos, deixou o país dias antes de uma enorme sessão de entrevistas.
Os refugiados dizem não saber o motivo.
“Apenas espero que eles voltem”, disse Ahmed Adam, de 21 anos, um entre as centenas de pessoas que deveriam ter sido entrevistados recentemente.
Autoridades americanas confirmaram a retirada da agência, descrevendo-a como uma ação temporária graças aos ataques.
A segurança foi reforçada na cidade, e mais de 60 agentes do FBI estão no país investigando os atentados.
O que eles descobrirem pode ter um grande impacto no quão liberal permanecerá o ambiente para os somalis em Uganda.
“O restabelecimento para refugiados nos Estados Unidos é um processo demorado”, afirmou Joann Lockard, porta-voz do Departamento de Estado em Uganda.
“Atualmente, os ataques de 11 de julho não alteraram o processo para os refugiados somalis em Uganda do ponto de vista dos EUA”.
Os Estados Unidos recebem milhares de somalis todos os anos.
Mais de 50 mil foram restabelecidos somente desde o ano fiscal de 2004, segundo o Departamento de Estado.
Do ponto de vista de alguns dos somalis em Uganda, veteranos da vida de refugiado, os ataques são apenas mais um contratempo numa longa e imprevisível fila de entrevistas, verificações de segurança e anúncios de boletins.
Ali Mohammed Muse, de 28 anos, é um desses.
Ele e sua mãe fugiram da Somália em 2004, e ela foi rapidamente restabelecida aos Estados Unidos.
Emseu campo de refugiados em Uganda, Muse trabalhava como líder da juventude e treinador de futebol.
Hoje, ele vive na Pequena Mogadíscio, esperando se juntar à mãe em Seattle.
Porém, Muse teme que os ataques terroristas tenham prejudicado suas chances, e balança a cabeça.
“Não sei por que, mas me sinto como se fosse culpado”, disse ele.
“Talvez eu me pareça com alguém; talvez tenha o mesmo nome”.
Filed under: Notícias
“Às vezes eu tenho esses pesadelos”, disse Ahmed Uleh, seus olhos ocultos atrás de brilhantes óculos de aviador.
“Como se eles quisessem cortar minha cabeça”.
Uleh, de 34 anos, contou ter sido sequestrado na Somália, no ano passado, pelo al-Shabab, o grupo insurgente de militância islâmica que assumiu responsabilidade pela explosão de dois encontros de torcedores de futebol em Uganda, durante a final da Copa do Mundo neste mês, matando 76 pessoas e colocando a África Oriental em alerta máximo.
Os captores de Uleh amarraram suas pernas e braços atrás de uma cadeira, segundo ele, e o espancaram.
Após ser libertado, vestiu a burca de uma mulher, fingindo ser uma mãe carregando um bebê nos braços, e conseguiu atravessar os postos de controle rebeldes até a capital da Somália, Mogadíscio, antes de pegar um voo para o exterior.
Ele chegou à capital de Uganda, Kampala, no ano passado, juntando-se a dezenas de milhares de outros somalis que deixaram décadas de violência para trás, em casa, para viver num país que diplomatas e autoridades da ONU chamam de paraíso dos refugiados.
Agora, esse paraíso está ameaçado.
Desde os ataques, a presença militar e policial tem se intensificado, alguns viajantes do nordeste africanoa foram recusados nas fronteiras e mudanças no protocolo de asilo deixaram somalis, como Uleh, por um fio.
Para piorar a ansiedade dos refugiados, uma agência trabalhando localmente para ajudar a restabelecê-los nos Estados Unidos deixou subitamente o país, gerando temores de que centenas tenham sido abandonados.
Os desenvolvimentos podem colocar em risco a atração de Uganda como um precioso ponto de trânsito, ou destino final, às multidões de pessoas quem fogem dos muitos perigos da Somália – incluindo a brutalidade de grupos insurgentes como al-Shabab.
Segundo as Nações Unidas, a Somália produz o terceiro maior número de refugiados do mundo, atrás do Afeganistão e do Iraque, e Uganda é um abrigo natural para eles.
O país possui uma das políticas de refugiados mais liberais da África, concedendo aprovação a praticamente todas as solicitações de asilo da região, exceto Ruanda, que busca ter seus refugiados devolvidos.
Aqui em Kampala, somalis construíram uma comunidade próspera e assimilada, vendendo ovelhas, arrumando carros, administrando restaurantes e jogando futebol num bairro que muitos daqui chamam de Pequena Mogadíscio.
O próprio Uleh se veste mais como um badalado DJ de discoteca do que um refugiado pobre, e milhares de somalis daqui estão no meio de processos para serem restabelecidos nos Estados Unidos.
A Copa do Mundo, teoricamente, deveria ser uma celebração também para os somalis, já que uma das canções originais do torneio era executada por um popular rapper somali, K’Naan, tornando-o um herói a muitos jovens somalis.
Mas então, no segundo tempo da partida final, três explosões destruíram dois locais populares, onde fãs assistiam ao jogo.
O al-Shabab reivindicou a responsabilidade mais tarde naquele mesmo dia, e para a comunidade somali de Uganda, uma nova realidade surgiu rapidamente.
A polícia parou de registrar novos refugiados imediatamente após os ataques.
Desde então, o processo reabriu com novos regulamentos e houve um dilúvio de inscrições, mas líderes comunitários afirmaram acreditar que muitos estavam temerosos demais para se apresentar.
Eles dizem que um calafrio desceu sobre as antes amigáveis ruas de Kampala.
Na semana passada, um homem eritreu foi espancado até a morte por uma multidão que, aparentemente, pensou que ele fosse somali.
Líderes comunitários dizem que mais de 20 somalis foram presos na vizinhança, incluindo um popular homem de negócios, e muitos mais foram capturados para interrogatórios.
“Nós colocamos vigilância em todas as esquinas, mas nosso povo é muito hospitaleiro”, disse Musa Ecweru, ministro estadual para desastres de Uganda.
“Não queremos xenofobia aqui.
Há muita coisa acontecendo no momento”.
Refugiados em Pequena Mogadíscio possuem uma preocupação maior espreitando suas mentes – o sonho da América.
Na semana passada, a Joint Voluntary Agency, que processa os pedidos de restabelecimento de refugiados em nome do governo dos Estados Unidos, deixou o país dias antes de uma enorme sessão de entrevistas.
Os refugiados dizem não saber o motivo.
“Apenas espero que eles voltem”, disse Ahmed Adam, de 21 anos, um entre as centenas de pessoas que deveriam ter sido entrevistados recentemente.
Autoridades americanas confirmaram a retirada da agência, descrevendo-a como uma ação temporária graças aos ataques.
A segurança foi reforçada na cidade, e mais de 60 agentes do FBI estão no país investigando os atentados.
O que eles descobrirem pode ter um grande impacto no quão liberal permanecerá o ambiente para os somalis em Uganda.
“O restabelecimento para refugiados nos Estados Unidos é um processo demorado”, afirmou Joann Lockard, porta-voz do Departamento de Estado em Uganda.
“Atualmente, os ataques de 11 de julho não alteraram o processo para os refugiados somalis em Uganda do ponto de vista dos EUA”.
Os Estados Unidos recebem milhares de somalis todos os anos.
Mais de 50 mil foram restabelecidos somente desde o ano fiscal de 2004, segundo o Departamento de Estado.
Do ponto de vista de alguns dos somalis em Uganda, veteranos da vida de refugiado, os ataques são apenas mais um contratempo numa longa e imprevisível fila de entrevistas, verificações de segurança e anúncios de boletins.
Ali Mohammed Muse, de 28 anos, é um desses.
Ele e sua mãe fugiram da Somália em 2004, e ela foi rapidamente restabelecida aos Estados Unidos.
Emseu campo de refugiados em Uganda, Muse trabalhava como líder da juventude e treinador de futebol.
Hoje, ele vive na Pequena Mogadíscio, esperando se juntar à mãe em Seattle.
Porém, Muse teme que os ataques terroristas tenham prejudicado suas chances, e balança a cabeça.
“Não sei por que, mas me sinto como se fosse culpado”, disse ele.
“Talvez eu me pareça com alguém; talvez tenha o mesmo nome”.
Filed under: Notícias
Posted: 28 Jul 2010 01:07 PM PDT
Fonte: European Pressphoto Agency
O Governo do Brasil concedeu através do Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas uma doação de US$ 300 mil aos refugiados saaráuis dos acampamentos do sudoeste argelino, anunciou nesta quarta-feira o presidente do Crescente Vermelho saaráui, Bouhubeini Yahia, citado pela agência “SPS”.
Trata-se da primeira vez que o Brasil concede uma ajuda deste tipo aos refugiados, segundo Bouhubeini, que destacou que a doação se produz após a visita realizada em abril pelo embaixador brasileiro em Argel, Henrique Sardinha Pinto, aos acampamentos, junto a outros representantes de países doadores.
O Ministério das Relações Exteriores (MRE) explicou que os fundos doados serão destinados à compra de alimentos de primeira necessidade, com o objetivo de tentar garantir a segurança alimentar e colaborar na melhora da nutrição dos refugiados.
A ajuda foi entregue ao PAM, organismo ligado à ONU, pela Embaixada do Brasil em Argel.
O Brasil não reconhece a República Árabe Saharaui Democrática, ao contrário de outros países latino-americanos, como México, Venezuela, Uruguai, Bolívia, Cuba, Nicarágua, Panamá, Costa Rica, El Salvador e Equador.
O Governo do Brasil concedeu através do Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas uma doação de US$ 300 mil aos refugiados saaráuis dos acampamentos do sudoeste argelino, anunciou nesta quarta-feira o presidente do Crescente Vermelho saaráui, Bouhubeini Yahia, citado pela agência “SPS”.
Trata-se da primeira vez que o Brasil concede uma ajuda deste tipo aos refugiados, segundo Bouhubeini, que destacou que a doação se produz após a visita realizada em abril pelo embaixador brasileiro em Argel, Henrique Sardinha Pinto, aos acampamentos, junto a outros representantes de países doadores.
O Ministério das Relações Exteriores (MRE) explicou que os fundos doados serão destinados à compra de alimentos de primeira necessidade, com o objetivo de tentar garantir a segurança alimentar e colaborar na melhora da nutrição dos refugiados.
A ajuda foi entregue ao PAM, organismo ligado à ONU, pela Embaixada do Brasil em Argel.
O Brasil não reconhece a República Árabe Saharaui Democrática, ao contrário de outros países latino-americanos, como México, Venezuela, Uruguai, Bolívia, Cuba, Nicarágua, Panamá, Costa Rica, El Salvador e Equador.