Posted: 30 Jan 2011 04:52 AM PST
Fonte: Agência Amazônia
Acre e Amazônia já receberam aproximadamente 500 haitianos. Planalto convoca às pressas reunião para discutir a questão
A chegada de aproximadamente 500 haitianos nos estados do Acre e do
Amazonas desde setembro do ano passado assustou o governo federal. Na
última quarta-feira o assunto ganhou prioridade na agenda do Palácio do
Planalto com a notícia de que outro grupo com o mesmo contingente
estaria chegando ao Brasil. O ministro chefe da Casa Civil, Antônio
Palocci, convocou às pressas uma reunião com os colegas José Eduardo
Cardozo (Justiça), Alexandre Padilha (Saúde), Relações Exteriores
(Antônio Patriota) e um representante da pasta da Defesa para tratar do
assunto, mas o governo preferiu minimizar o problema.
O encontro serviu para definir as ações
do governo federal para tentar organizar o fluxo migratório de
haitianos, mas nada foi divulgado. Os haitianos chegam ao Brasil fugindo
das conseqüências do terremoto de magnitude 7.0 na escala Richter que
há pouco mais de um ano destruiu a capital Porto Príncipe, causou mais
de 200 mil mortes e deixou outras 300 mil pessoas gravemente feridas,
além de milhares contaminados por diversas doenças.
A primeira leva de refugiados do terremoto chegou em setembro pela
cidade de Tabatinga, município do Amazonas localizado na fronteira do
Brasil com a Colômbia e Peru. Às vésperas do Natal, outro grupo chegou a
Brasiléia, no Acre, onde estão cerca de 100 estrangeiros. Os refugiados
saem de quatro regiões diferentes no Haiti e chegam ao Brasil por um
caminho tortuoso. Na primeira etapa, os haitianos atravessam a fronteira
e chegam à vizinha República Dominicana. Depois, compram passagens em
pequenos aviões ou barcos precários para o Panamá. De forma improvisada
os refugiados conseguem chegar ao Equador e depois ao Peru, onde ficam
nas cidades de Iñapare e Puerto Maldonado antes de pegarem a rodovia
Transoceânica, estrada de 1.200 km que liga o Peru ao Acre.
Os refugiados chegam de ônibus, táxi e até caminhando. A primeira
parada é a cidade de Assis Brasil e depois Brasiléia e Epitaciolândia,
onde procuram a Polícia Federal e pedem refúgio. A viagem costuma durar
dois meses. Um grupo de 30 haitianos conseguiu chegar à capital Rio
Branco no final do ano passado. Parte deles arrumou dinheiro fazendo
bicos e viajou para São Paulo em busca de emprego. Na capital paulista
já existe uma colônia clandestina de refugiados. Em Brasiléia, onde está
o maior número de haitianos, a prefeitura acomodou os estrangeiros em
uma quadra esportiva coberta que serve de acampamento e nas pousadas. O
governo do Acre está fornecendo cestas básicas. Até a semana passada,
não havia crianças entre os migrantes que são na grande maioria homens
entre 18 e 40 anos.
Qualificação profissional chama atenção
Os refugiados também chamam a atenção pela organização dos documentos e a
qualificação profissional. Muitos são pedreiros, mestres de obras,
carpinteiros, estudantes, professores universitários e até advogados.
Todos falam a língua creole, oficial no Haiti, e o francês. Boa parte
também se comunica em espanhol, inglês e até italiano. “Eles buscam
trabalho para reconstruir a vida e até ajudar os parentes que ficaram no
Haiti”, disse o secretário de Justiça e Direitos Humanos do Acre,
Henrique Corinto.
Nas entrevistas feitas pelos assistentes sociais, os haitianos
revelam um surpreendente conhecimento das chances de emprego no Brasil.
Sugerem, por exemplo, que sejam transferidos para Rondônia, estado onde
estão sendo construídas duas grandes hidrelétricas – Jirau e Santo
Antônio, no Rio Madeira – para que possam trabalhar na construção das
barragens. Mas o principal objetivo dos haitianos é chegar a São Paulo.
Os refugiados simpatizam com o Brasil. Além de conviverem com os
soldados do Exército brasileiro que formam a Força de Paz no Haiti,
revelam que escolheram o País porque o Brasil oferece as melhores
condições de trabalho e boa hospitalidade. A Fundação Nacional de Saúde
(Funasa) coletou sangue, urina e fezes para exames. Entre os refugiados
abrigados no Acre estão duas mulheres grávidas. Os haitianos também
receberam todas as vacinas oferecidas todo ano pelo governo aos
brasileiros.
Pelas leis brasileiras, os haitianos que chegaram ao Acre e ao
Amazonas deveriam ser deportados porque entraram no País sem visto. Mas
os governos estaduais e a presidência da República não tomaram esta
atitude por razões humanitárias. Para evitar que os refugiados transitem
pelo estado, o governo do Acre fez um acordo com os haitianos para que
permaneçam em Brasiléia em troca de acomodações, alimentação e
assistência médica até a regularização dos documentos dos migrantes
estrangeiros.