Roberto Abraham Scaruffi

Sunday, 30 January 2011


Posted: 29 Jan 2011 08:59 AM PST
Fonte: AFP
O crime organizado no México recrutou, à base de ameaças ou com o atrativo do dinheiro fácil, em torno de 30.000 crianças que realizam dezenas de atividades ilícitas, do tráfico de drogas ao homicídio, passando pelo tráfico de imigrantes, revela relatório de uma ONG.
“São em torno de 30.000 meninos e meninas que cooperam com grupos criminosos”, afirma o relatório “Infância e conflito armado no México”, elaborado pela Rede pelos Direitos da Infância do México (RDIM), com base em diversas investigações diante da ausência de cifras oficiais.
Segundo o relatório divulgado nesta semana, “localizamos três tipos de envolvimento (com o crime). O mais frequente são adolescentes informantes, outro segmento, sobretudo nas zonas rurais, são crianças envolvidas na produção de drogas e um número muito pequeno são recrutados como pistoleiros”, comentou à AFP Martín Pérez, diretor da RDIM.
Dados da Procuradoria Geral mexicana informam que de dezembro de 2006 a abril de 2010, um total de 3.664 menores de idade foram detidos em operações contra o crime organizado.
Martín Pérez ressalta que o fenômeno das crianças envolvidas com o crime não deve ser visto de forma homogênea, nem exclusivamente do ponto de vista criminal, já que em muitos casos trata-se de recrutamentos forçados ou de jovens pobres e sem oportunidades que são atraídos pelo dinheiro fácil.
“Temos crianças e adolescentes, sobretudo no meio rural, que são ameaçados ou sequestrados para se envolver (no crime), para eles, é uma questão de vida ou morte. Outros, como nas zonas urbanas do norte, entram no crime porque querem”, explica.
O dinheiro recebido por estes menores varia segundo o tipo de atividade e a ‘oferta de mão de obra’.
“Há um vídeo na Internet de um menino, que não foi preso, que diz receber 3.000 dólares por assassinato. No norte, como em Ciudad Juárez, são pagos 12.000 pesos mensais (960 dólares) e na Cidade do México são 5.000 pesos (411 dólares) por mês”, completa.
No tráfico de imigrantes, segundo o estudo, as crianças têm um papel primordial, pois “são utilizadas como vigias ou informantes, monitorando a quantidade de migrantes que chegam” aos povoados onde os ilegais estão concentrados, na maioria vindos da América Central.
Os menores com idade média de 12 anos “são utilizados para controlar as casas de segurança” para as quais os imigrantes sequestrados são levados. Os maiores, de 16 anos, “trabalham em ações mais violentas, como os sequestros e assassinatos, e todos portam armas”, informa o documento.
O diretor da RDIM alerta que as instituições mexicanas, fragilizadas, não estão “preparadas para este nível de violência” e muito menos para enfrentar o fenômeno de menores envolvidos na delinquência.
Os menores de idade não podem ser tratados como delinquentes, já que “estariamos vitimizando crianças que já são vítimas dos criminosos”, explica.
Na segunda-feira, o México tem uma audiência em Genebra diante do Comitê sobre os Direitos da Criança, na qual a RDIM e outras ONGs pedem ao governo que responda às recomendações sobre a situação das crianças na luta contra drogas com “ações concretas, efetivas e de longo prazo”.