Posted: 29 Jan 2011 08:59 AM PST
Fonte: AFP
O
crime organizado no México recrutou, à base de ameaças ou com o
atrativo do dinheiro fácil, em torno de 30.000 crianças que realizam
dezenas de atividades ilícitas, do tráfico de drogas ao homicídio,
passando pelo tráfico de imigrantes, revela relatório de uma ONG.
“São em torno de 30.000 meninos e meninas que cooperam com grupos
criminosos”, afirma o relatório “Infância e conflito armado no México”,
elaborado pela Rede pelos Direitos da Infância do México (RDIM), com
base em diversas investigações diante da ausência de cifras oficiais.
Segundo o relatório divulgado nesta
semana, “localizamos três tipos de envolvimento (com o crime). O mais
frequente são adolescentes informantes, outro segmento, sobretudo nas
zonas rurais, são crianças envolvidas na produção de drogas e um número
muito pequeno são recrutados como pistoleiros”, comentou à AFP Martín
Pérez, diretor da RDIM.
Dados da Procuradoria Geral mexicana informam que de dezembro de 2006
a abril de 2010, um total de 3.664 menores de idade foram detidos em
operações contra o crime organizado.
Martín Pérez ressalta que o fenômeno das crianças envolvidas com o
crime não deve ser visto de forma homogênea, nem exclusivamente do ponto
de vista criminal, já que em muitos casos trata-se de recrutamentos
forçados ou de jovens pobres e sem oportunidades que são atraídos pelo
dinheiro fácil.
“Temos crianças e adolescentes, sobretudo no meio rural, que são
ameaçados ou sequestrados para se envolver (no crime), para eles, é uma
questão de vida ou morte. Outros, como nas zonas urbanas do norte,
entram no crime porque querem”, explica.
O dinheiro recebido por estes menores varia segundo o tipo de atividade e a ‘oferta de mão de obra’.
“Há um vídeo na Internet de um menino, que não foi preso, que diz
receber 3.000 dólares por assassinato. No norte, como em Ciudad Juárez,
são pagos 12.000 pesos mensais (960 dólares) e na Cidade do México são
5.000 pesos (411 dólares) por mês”, completa.
No tráfico de imigrantes, segundo o estudo, as crianças têm um papel
primordial, pois “são utilizadas como vigias ou informantes, monitorando
a quantidade de migrantes que chegam” aos povoados onde os ilegais
estão concentrados, na maioria vindos da América Central.
Os menores com idade média de 12 anos “são utilizados para controlar
as casas de segurança” para as quais os imigrantes sequestrados são
levados. Os maiores, de 16 anos, “trabalham em ações mais violentas,
como os sequestros e assassinatos, e todos portam armas”, informa o
documento.
O diretor da RDIM alerta que as instituições mexicanas, fragilizadas,
não estão “preparadas para este nível de violência” e muito menos para
enfrentar o fenômeno de menores envolvidos na delinquência.
Os menores de idade não podem ser tratados como delinquentes, já que
“estariamos vitimizando crianças que já são vítimas dos criminosos”,
explica.
Na segunda-feira, o México tem uma audiência em Genebra diante do
Comitê sobre os Direitos da Criança, na qual a RDIM e outras ONGs pedem
ao governo que responda às recomendações sobre a situação das crianças
na luta contra drogas com “ações concretas, efetivas e de longo prazo”.