Posted: 23 Dec 2010 05:04 PM PST
Fonte: ACNUR
Quase quatro anos após sua última visita, o Alto Comissário da ONU
para refugiados esteve, durante a última semana, viajando pela Colômbia e
Equador para avaliar a situação dos milhões de colombianos deslocados
nos dois países latinos.
Guterres visitou alguns colombianos deslocados à força em áreas
urbanas e rurais, se reuniu com funcionários do ACNUR e participou de
discussões sobre a situação de deslocamento prolongado com oficiais de
ambos os países, incluindo o Presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e
o equatoriano, Rafael Correa.
Ele também pediu à comunidade
internacional que aliviem o peso do Equador. “ O impacto dessa crise
humanitária é pouco conhecida no resto do mundo e um maior apoio é
necessário por parte da comunidade internacional,” disse o Alto
Comissário, que retornou à Europa na tarde de terça-feira.
Guterres começou sua viagem na última quinta-feira em Bogotá, onde se
encontrou com o Presidente da Colômbia e reiterou o apoio do ACNUR aos
esforços do governo de melhorar as condições e expectativas de vida dos
3.5 milhões de deslocados no país. A agência da ONU para refugiados
também assiste a refugiados colombianos nos países vizinhos, incluindo
mais de 50 mil no Equador.
O Alto Comissário disse estar confiante de que a legislação
progressista da Colômbia, que visa ajudar deslocados à força e
populações indígenas, traria reais benefícios, especialmente nas zonas
rurais onde a execução é um problema freqüente.
Ele também deu as boas vindas aos planos do governo de devolver as
terras aos fazendeiros deslocados, assim como a outras vítimas da
violência, durante os próximos quatro anos. “Esse é um passo muito
importante para assegurar que os deslocados possam usufruir amplamente
de sua cidadania”, disse Guterres. “O ACNUR apóia políticas que visem o
reconhecimento de seus direitos”.
Em Bogotá o Alto Comissário se encontrou com um grupo de deslocados
internos afro-colombianos que viviam em um humilde quarto no subúrbio de
Soacha, onde 33.5 mil pessoas foram registradas como deslocados
internos. O ACNUR tem um pequeno escritório em Soacha e vem trabalhando
desde 2005 para assegurar o acesso a educação, saúde e moradia. O grupo
comentou com Guterres sobre a discriminação e as dificuldades de
integração que enfrentaram em zonas urbanas. “Somos vistos como
diferentes porque somos deslocados e por causa da cor da nossa pele”,
disse uma mulher que fugiu de uma região na costa do Pacífico.
“Precisamos de ajuda; ainda somos seres humanos”.
Guterres visitou também as pequenas comunidades indígenas de Jiw e
Nukak Maku, na floresta tropical próxima à cidade de San Jose Del
Guaviare, localizada no centro do país. Mais de 30 tribos colombianas
estão oficialmente sob ameaça de extinção, segundo a Corte
Constitucional. Muitos abandonaram suas terras ancestrais para escapar
de grupos armados ilegais, arriscando seus meios de subsistência e suas
culturas.
“Nós não podemos mais nos movimentar em busca de comida, porque o
nosso território está minado. Estamos confinados e rodeados por grupos
armados ilegais”, um líder indígena Jiw contou ao Alto Comissário.
Guterres garantiu a eles que a equipe do ACNUR que trabalha no terreno
continuaria seu trabalho com as autoridades locais para prevenir o
deslocamento e ajudar suas tribos. Ele também se encontrou com famílias
de deslocados internos que tinham fugido de suas vilas para proteger
seus filhos do recrutamento forçado pelas forças irregulares.
No Equador, Guterres visitou refugiados urbanos assim como
colombianos que vivem em áreas remotas da província de Esmeraldas, no
norte do país, onde o ACNUR tem um escritório operacional. O Equador é o
país que mais recebe refugiados na América Latina – dos quais 60% vive
em zonas urbanas como Quito e 40% vive nas proximidades da fronteira
norte da Colômbia, uma região isolada com acesso limitado a serviços
públicos.
O Governo do Equador observou recentemente um aumento no número de
pessoas cruzando a fronteira do país para escapar da violência e do
recrutamento forçado na Colômbia.
Guterres parabenizou o Equador por sua generosidade em abrigar tantos
refugiados, dizendo que o país merece mais ajuda. “Eu peço à comunidade
internacional que ajude os refugiados e as comunidades receptoras no
Equador, e que apóie o Plano do Equador, o qual foca as comunidades
locais e os refugiados nas regiões fronteiriças”, disse aos jornalistas
em Quito na segunda-feira, após ter se reunido com o Presidente Correa.
O Alto Comissário afirmou que as demandas eram maiores na fronteira
norte do Equador, com a Colômbia, onde se encontrou com refugiados
incluindo membros da comunidade indígena Esperas que cruzaram a
fronteira.
“Mais pessoas estão chegando”, disse um líder Esperas, refugiado no
Equador. “Estamos recebendo nossos irmãos e irmãs porque suas vidas
correm risco. Não sabemos como vamos lidar com essa situação. Perdemos
nosso território e a terra que temos agora não é suficiente para a nossa
sobrevivência”.
Nos últimos anos, a agência da ONU para refugiados expandiu seu
trabalho ao longo da fronteira entre Equador e Colômbia em uma tentativa
de reduzir as tensões entre refugiados e comunidades receptoras e de
apoiar o desenvolvimento.
Por Francesca Fontanini em Quito, Equador