Posted: 13 Jan 2011 03:57 PM PST
Fonte: UOL
A
chuva também provocou estragos no município de Sumidouro, ao norte de
Nova Friburgo (RJ); segundo a prefeitura, o rio Paquequer ultrapassou o
nível normal em 5,2 metros. Muitos bairros ficaram sem energia elétrica e
telefone (Foto: Divulgação/ Prefeitura de Sumidouro)
Centenas de pessoas ainda permanecem soterradas em Nova Friburgo,
segundo projeção da Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro. Ainda há
localidades que sofreram deslizamentos inacessíveis para as equipes de
resgate. Embora as chances sejam remotas, ainda há esperanças de
encontrar alguém com vida, afirmam bombeiros. O município é o mais
atingido pelas chuvas da região serrana e já soma mais de 200 mortos.
“Foi um fenômeno fora do comum nessa área aqui de Friburgo, ainda há
vários pontos de desabamentos. Nós ainda não chegamos a muitas
localidades, e isso dificulta muito”, disse o comandante geral do Corpo
de Bombeiros, coronel Pedro Machado.
Mesmo assim, o tenente-coronel Marrafa,
da Defesa Civil do Estado acredita que “sempre há esperança de ter vida
debaixo dos escombros mesmo depois de 48 horas”. Segundo informou a
Defesa Civil, existem mais de 30 frentes dos bombeiros atuando em todo o
município.
“Estamos torcendo para que não chova muito forte”, admitiu o
tenente-coronel Marrafa, que faz um apelo à população: “A gente pede
para, quem esteja em área de risco, que saia e fique em lugar seguro”. A
previsão do tempo aponta para chuvas até domingo.
Ainda é impossível calcular o número de desabrigados na cidade, pois
as pessoas estão sendo acolhidas na casa de parentes e amigos. “Quando a
situação entrar numa normalidade é que serão apresentados abrigos”,
afirmou o comandante geral do Corpo de Bombeiros.
Limpeza
Dois dias após a enxurrada e os desabamentos, aos poucos a população tenta retomar a rotina e começar do zero.
A cidade amanheceu nesta quinta-feira (13) limpando o que sobrou dos
escombros. A população se mobilizou numa grande força-tarefa para
retirar a lama das calçadas e ajudar na organização do trânsito, que
está caótico.
O comércio abriu parcialmente nas áreas centrais para evitar a ameaça
do desabastecimento na cidade. Mas a maior parte de supermercados e
estabelecimentos que vendem alimentos permaneceram fechados.
Com cerca de 200 mil habitantes, Nova Friburgo é conhecida como o
pólo da moda, onde a indústria da lingerie movimenta grande parte da
economia local, sendo referência para atração de turistas e de geração
de emprego.
Próximo à rodoviária na entrada da cidade, alguns funcionários de uma
loja de moda íntima tentavam limpar o que tinha sobrado. A loja estava
ameaçada a desabar porque uma laje havia caído próximo ao córrego.
“Parece um filme, fora da realidade. Quando o tempo fecha que nem
hoje é mau sinal. A cidade sinceramente não está preparada”, disse
Luciene da Rosa, de 34 anos, e há pelo menos 16 mora em Friburgo. Ela
disse que já tinha vivenciado uma enchente grande em 1996, mas “essa foi
pior”, garante.
Em cima da laje que desabou próximo a um córrego, havia um pequeno
jardim em frente às lojas. Hoje não sobrou nada, apenas um buraco que
ameaçava aumentar. “Vai demorar para a cidade tentar voltar ao normal”,
lamentou Luciene.
Em meio a um grande centro comercial de moda, que durante toda a semana lota de fregueses, hoje só havia uma única loja aberta.
“Eu nunca vi isso. Caíram casas e prédios, a terra ‘lambeu’ tudo.
Fiquei assustada com qualquer barulho, eu já estava preparada para sair
de casa com uma mala de roupa e remédio”, afirmou a jovem vendedora de
22 anos, Pâmela Pereira de Almada. Ela mora numa das áreas mais
afetadas, o bairro de Jardinlândia, onde na madrugada de quarta-feira a
água chegou a três metros de altura.
Em
Teresópolis, peritos exibem fotos das vítimas em frente ao IML para
reconhecimento por parentes e os primeiros corpos começam a ser
sepultados no cemitério municipal, onde foram abertas 300 covas (Foto:
Vladimir Platonow/ Agência Brasil)
“Só hoje consegui falar com a minha mãe em Teresópolis”, contou ainda
assustada. Teresópolis foi outra cidade bastante afetada na região
serrana do Rio.“Ontem onde eu moro foi difícil, só tiravam gente morta
dos escombros.”
Pâmela contou que a água demorou muito a baixar e o Corpo de
Bombeiros só conseguiu ter acesso aos locais atingidos por deslizamentos
no início da tarde. “Hoje eu vim trabalhar chorando, passei pelo centro
e vi todas as ruas alagadas e sujas.”
Nas ruas do centro, ainda é difícil caminhar, a lama toma conta da
via e impede a circulação de pessoas e carros. Numa mercearia próxima à
avenida principal, Euterpe Friburguense, um casal tentava tirar a lama
que havia entrado no estabelecimento. Muitos alimentos ficaram
estragados. “A família perdeu a casa, mas graças a deus está viva”,
dizia Cristina de Oliveira que há 11 anos é proprietária do mercado
junto com seu marido.
Já na loja ao lado, uma boutique de roupas e acessórios, pouca coisa
havia sobrado. Daniele Andrade, dona há quatro anos, disse que pouca
coisa não foi destruída pela força das águas. “Não temos previsão de
abrir a loja, estou levando algumas roupas para lavar. Não sabemos nem
se vamos comer. Vai ser difícil retomar a rotina”, ressalta a
proprietária.
Fuga da cidade
O trânsito esteve caótico neste dias. Ambulâncias, guinchos e caminhões pipa pediam passagem, mas ficavam atolados na lama.
Os poucos postos de gasolina abertos estavam no início da manhã com
filas enormes de veículos para abastecer –no período da tarde, já
faltava combustível em grande parte dos postos.
A comunicação entre as equipes de salvamento está sendo feita apenas
por rádio. Os bombeiros estão trabalhando ininterruptamente desde a
madrugada da tragédia. “Não dá para abandonar o trabalho, se eu pudesse
eu iria ao enterro. A gente tem que continuar trabalhando, tem outras
pessoas que também precisam da gente”, disse o jovem tenente do Corpo de
Bombeiros Sant’ana Silva, de 22 anos, que perdeu seus três colegas de
profissão soterrados na quarta-feira quando iam atender a um resgate.
O tenente Sant’ana Silva era amigo de Uanderson Flávio de Freitas, de
25 anos, e Vítor Lembo Spinelli, de 28 anos, que morreram ao serem
atingidos pela queda de um barranco.
“Quem pode, quer fugir daqui”, disse o motorista de ônibus
intermunicipal Rogério Soares, de 43 anos. Na rodoviária é possível ver
muitas pessoas se preparando para deixar a cidade. Os ônibus já
começaram a circular fazendo o trajeto Rio de Janeiro- Nova Friburgo,
mas não tem hora para sair. A demanda tem sido grande: à medida que
chegam, eles já descem a serra todos ocupados. A companhia de ônibus
1001 que opera Rio-Friburgo está funcionando sem horário fixo.
A família de Rosângela Cristina Souza, de 53 anos, resolveu deixar
Friburgo e voltar apenas quando a situação estiver normalizada. Ela, a
sua mãe de 85 anos, a filha, genro e neto de seis meses, deixaram na
tarde de hoje a cidade rumo a Cabo Frio e não tem previsão de voltar. Um
barranco caiu ao lado da casa onde vivem, próximo à avenida Euterpe
Friburguense de grande circulação na cidade. “O barranco caiu na
madrugada de quarta-feira, colocamos sofás e móveis para segurar a
porta, mas não deu, entrou muita lama. Agora só voltamos quando melhorar
a situação”, disse Rosângela.

