Roberto Abraham Scaruffi

Monday, 3 December 2012

“Aos nossos filhos” e mais 9 atualizações

Link to Jornal A Verdade


Posted: 02 Dec 2012 07:07 AM PST
Leia em nosso site: Aos nossos filhos
A Organização das Nações Unidas (ONU) e as Convenções Internacionais de Direitos Humanos já definiam a participação especial que as sociedades e os Estados deveriam assegurar às crianças e aos adolescentes. Mas, quem disse que ditadura respeita lei, convenção, tratado, regra de moral ou ética? Desse modo, a longa noite de terror que escureceu o país durante 21 anos (1964-1985) vitimou também crianças e adolescentes.
O movimento estudantil – secundarista e universitário – engajou-se com todas as forças na luta para pôr abaixo a Ditadura Militar. Nas manifestações de rua que se seguiram ao golpe militar, tombaram garotos que se tornaram símbolos de resistência.  Jonas José de Albuquerque Barros, 17 anos, foi assassinado no dia 1º de abril de 1964, por ocasião de uma manifestação pública no Centro do Recife, em protesto contra o golpe que acabara de derrubar João Goulart da Presidência da República e implantar um regime ditatorial. Édson Luís de Lima Souto, há pouco havia completado 18 anos. Durante protesto por melhoria de condições no restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro, foi atingido mortalmente por um tiro da Polícia Militar.  Fernando da Silva Lembo, 15 anos, participava de uma passeata contra a ditadura no Rio de Janeiro em 21 de junho de 1968, quando foi atingido na cabeça por uma bala disparada por um PM. Morreu no Hospital Miguel Couto no dia 1º de julho.
Adolescentes entre mortos e desaparecidos
Após a edição do AI-5 (13/12/1968), várias organizações políticas de esquerda optaram pela ação armada como forma de derrubar a Ditadura e implantar o socialismo. Entre seus militantes, havia secundaristas adolescentes que conheceram o braço pesado do terror estatal.
As crianças não foram poupadas. Filhos(as) de militantes foram apresentados(as) aos porões do DOI-Codi, do Dops e outras Casas da Morte, como ameaça para “abrir a boca” dos revolucionários que resistiam aos choques elétricos, pancadaria, pau-de-arara, sessões de afogamento.
 Eis, sinteticamente, algumas dessas histórias para não esquecermos jamais e cobrarmos com intensidade maior o direito à memória, à verdade, à punição dos algozes.
 “…Dorme, meu menino, dorme…”
VLADEMIR tinha oito anos e VIRGÍLIO FILHO, seis, na ocasião em que seu pai, Virgílio Gomes da Silva (leia A Verdade, nº 144) foi sequestrado, torturado e morto no dia 29/09/1969. Dia seguinte, a casa da família foi invadida e toda a família aprisionada, inclusive Isabel, um bebê de quatro meses.  As crianças foram levadas para um Juizado de Menores em São Paulo. Virgílio lembra: “…A noite era pior. Tinham umas luzes meio roxas para o lado do berçário da Isa. Meu irmão (Vlademir) me levava na cozinha para a gente roubar leite e dar para ela”. Eles dormiam embaixo do berço para impedir que levassem a irmã. “Eles nos levavam para ver umas casas bonitas e perguntar se gostaríamos de morar ali”. Uma tia os resgatou e periodicamente levava as crianças para uma esquina próxima ao presídio, de onde Ilda (a mãe) podia vê-las, embora elas não a vissem. Mas sabiam que era a mãe porque viam um jornal balançando (era Ilda acenando para eles). Quando a visita foi permitida, diz Virgílio, “a alegria de ver a mãe foi maior que todo o sofrimento pelo qual passaram”.  Libertada em 1979, Ilda foi com a família para Cuba, de onde só voltaram depois de adultos e formados. “Se há um paraíso na Terra, é Cuba. No Brasil, meu pai era tratado como bandido, em Cuba como herói. Nós éramos filhos de um herói”, testemunha Virgílio Filho.
IVAN SEIXAS tinha 16 anos no momento em que, no dia 16 de abril de 1971, foi preso juntamente com seu pai, Joaquim Alencar de Seixas. Ambos militavam no Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), do qual Joaquim era dirigente.  Foram barbaramente torturados. Depois, na mesma cela, Ivan ouviu do seu pai a última frase de sua vida: “Aguenta firme. Não fala”. Poucas horas depois, Joaquim morreria. Ivan não falou, sofreu muito, mas sobreviveu. Passou seis anos na cadeia (o resto de sua adolescência e parte da juventude). Atualmente, é diretor do Fórum de Ex-Presos Políticos de São Paulo.
MARCO ANTÔNIO DIAS BAPTISTA (1954-1970) tornou-se o mais jovem “desaparecido político” brasileiro. Tinha apenas 15 anos quando sumiu (1970). Militava na Vanguarda Armada Revolucionária – Palmares (VAR-Palmares). Há testemunho de que foi preso pela equipe de Fleury em São Paulo.
NILDA CARVALHO CUNHA era casada, mas contava apenas 17 anos. Militava no Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) com o seu companheiro Jaileno Sampaio. Eles abrigaram Iara Iavelberg (leia A Verdade, nº 65). Tiveram o apartamento invadido. Iara foi morta. Nilda passou três meses presa, sofrendo torturas físicas e psicológicas. Saiu doente, ficou cega, teve pesadelos e crises de delírio. Estava internada quando o torturador, major Nilton Cerqueira, teve a ousadia de invadir seu quarto no hospital e ameaçá-la. A “visita” aterrorizante agravou seu estado de saúde, e Nilda faleceu em novembro de 1971.
MARIA AUXILIADORA DE ALMEIDA ARANTES, mulher de Aldo Arantes, ex-presidente da UNE e dirigente do PCdoB, viveu 11 anos na clandestinidade, dois anos no exílio e passou quatro meses presa em Maceió. Sua prisão se deu juntamente com dois filhos – um menino de três anos e uma menina de dois. Passaram pelo Dops, Cadeia Pública, Escola de Aprendizes de Marinheiro e Hospital da Polícia Militar. As crianças sofreram todos os rigores da prisão: “…não podiam ir à escolinha, nem sair para brincar no pátio. Estavam confinadas, privadas de liberdade, submetidas a condições degradantes”. Por conta da clandestinidade, os filhos de Aldo, como de muitos outros militantes, não sabiam o verdadeiro nome do pai. Conheciam-no como Roberto.
JOÃO CARLOS GRABOIS – JOCA sofreu as consequências da tortura ainda no útero quando sua mãe (oito meses), Crimeia Schimidt de Almeida foi presa e torturada pela Operação Bandeirantes (Oban), em São Paulo. Ele nasceu prematuro e ficou 52 dias na cela com a mãe.
Queriam separar o CACÁ, com apenas um mês de idade, de sua mãe Rose Nogueira (leia A Verdade, nº 125), mas ela resistiu tão bravamente que os repressores cederam. Depois, no Dops, a criança foi utilizada como ameaça para que a prisioneira respondesse ao que os torturadores gostariam de ouvir. Somente após 30 dias de prisão, deixaram-na vê-lo, e apenas por alguns minutos. Cacá (Carlos Guilherme Clauset, hoje jornalista e piloto de rally) tinha dez meses quando Rose foi solta.
OS “MALDITOS” DO ARAGUAIA – Durante a guerrilha do Araguaia (1973-1975), não foram apenas os guerrilheiros as vítimas da violenta repressão. Camponeses, tendo mantido ou não alguma relação com os militantes sofreram barbaramente, inclusive o sequestro de filhos, a maioria dos quais nunca apareceu. É o caso de Maria Bezerra de Oliveira, cearense que se deslocara para a região ainda na década de 50 e perdeu seus filhos levados pelos militares sem motivo algum. “Tinha um filho de oito anos, Juracy, que foi iludido por um militar e me largou por ele. Chorei 15 dias. Depois, eles voltaram com o menino, perguntaram se eu dava, então eu disse que não, porque meus filhos não eram cachorros, e ele levou. Dias depois, outros soldados vieram e levaram o caçula, Miraci”. Quando completou 15 anos, Juracy deixou a família do militar e reencontrou a mãe. Do filho mais novo, ela não teve mais notícias.
Um sentimento profundo de amor
Sofreram ainda os(as) filhos(as) de militantes que não foram presos nem mortos ou desaparecidos ou tiveram vida clandestina. Trabalhando, estudando e dedicando-se à militância, tiveram pouco tempo livre para dar atenção e carinho às suas crianças, que naturalmente carregam essa carência dentro de si.
 Não foi por falta de amor; ao contrário, foi por serem movidos(as) por um profundo sentimento de amor por todas as crianças; não conseguiam se sentir felizes ao lado do(a) filho(a), sabendo que milhares de meninos(as) sofrem as consequências do terror, de um sistema excludente e repressor.
Muitas vezes, com o coração partido e lágrimas contidas, deixaram de comemorar o aniversário do(a) seu (sua) filho(a) ou saíram no meio de uma festinha, pedindo desculpas entre abraços e beijos: “desculpa, filho(a), mas papai (mamãe) precisa trabalhar”.
Em nome de todos(as) os(as) militantes, um brilhante pedido de perdão feito por Ivan Lins e Vítor Martins. Aos que não seguiram o caminho do pai e/ou da mãe, que os compreendam, pelo menos, e os amem cada vez mais, certos de que são ou foram muito amados.
Aos Nossos Filhos
Ivan Lins
Perdoem a cara amarrada
Perdoem a falta de abraço
Perdoem a falta de espaço
Os dias eram assim
Perdoem por tantos perigos
Perdoem a falta de abrigo
Perdoem a falta de amigos
Os dias eram assim
Perdoem a falta de folhas
Perdoem a falta de ar
Perdoem a falta de escolha
Os dias eram assim
E quando passarem a limpo
E quando cortarem os laços
E quando soltarem os cintos
Façam a festa por mim
Quando lavarem a mágoa
Quando lavarem a alma
Quando lavarem a água
Lavem os olhos por mim
Quando brotarem as flores
Quando crescerem as matas
Quando colherem os frutos
Digam o gosto pra mim
Fonte – Direito à Memória e à Verdade – Histórias de meninas e meninos marcados pela ditadura – Secretaria Especial da Presidência da República, 2009
  
Posted: 02 Dec 2012 07:02 AM PST
Leia em nosso site: Carucango: negro e guerreiro
Desde que pisou pela primeira vez o território brasileiro, o negro tem sido um resistente. Inicialmente, como escravizado vindo de diversas partes da África, a organização de fugas e o aquilombamento foram as principais formas de tentar obter a liberdade retirada por algozes, até aquele período desconhecidos, como mercadores e compradores de escravos.
Apesar de o escravismo ter sido a relação social marcante durante três séculos, desde meados do século 18 o Brasil já não estava mais dividido apenas em um punhado de senhores brancos e uma multidão de escravos negros. A mestiçagem sempre foi uma realidade, embora não eliminasse o racismo, a violência e as desigualdades sociais. Tanto que, no começo do século 19, calcula-se que um terço da população nacional era composta pelos chamados pardos livres. Muitos negros haviam conquistado alforria e seus descendentes imediatos atuavam nos diversos trabalhos artesanais, nas irmandades religiosas, em milícias e alguns poucos até integravam as elites culturais e políticas, como José do Patrocínio (1854-1905) e Luís Gama (1830-1882)[i] Os homens e mulheres escravizados sofreram muito e enfrentaram desafios duros, mas não foram apenas vítimas. Como agentes históricos, participavam e interferiam, dentro de suas possibilidades, nos rumos da sociedade e em seus próprios destinos. “Vale chamar atenção para um ponto: a Abolição, oficializada pela Lei Áurea em 13 de maio de 1888, não se realizou apenas ‘por cima’, isto é, pela iniciativa das elites parlamentares, de abolicionistas ilustres, dos proprietários ‘esclarecidos’ e da Coroa Imperial. De fato, um longo e penoso processo de embates ocorreu, do qual participaram, principalmente, os cativos. De forma direta ou indireta, as ações individuais ou coletivas dos escravos ajudaram a minar o sistema escravista, por meio de pequenos e grandes quilombos, de fugas coletivas ou individuais, cometendo violências contra a violência opressora, enfim, com variadas atitudes de resistência”[ii].
Nesse contexto de luta e de indignação acerca do sistema escravista, surge Carucango, trazido de Moçambique para o Brasil – mais especificamente, para Macaé.
A Resistência em Macaé
Quando em 1817, Saint Hilaire passou por Macaé, havia poucos anos que o local tinha sido erigido em vila. A criação da vila ocorreu em 1813 e no ano seguinte a Câmara iniciou seus trabalhos de ordenamento urbano e social. Assim, o que o naturalista viu ao passar pela região foi o início de um processo de consolidação espacial e de poder comandado pela elite local. Segundo seus relatos, “naqueles anos iniciais do século 19, a principal atividade econômica da vila era o comércio de madeiras. Tanto os ricos como os médios e pequenos proprietários de terras e homens se dedicaram a esta exploração. Havia também outros produtos na região, vinte engenhos de açúcar que existiam entre o sítio do Paulista e o porto de São João da Barra. Além destes engenhos, alguns fazendeiros estavam também iniciando o cultivo de café. Outros, ainda, plantavam milho, algodão, arroz e mandioca”[iii].
Em todas estas atividades, bem como nos serviços urbanos e domésticos, a mão de obra cativa era essencial. Todavia, para manter o controle sobre este elevado contingente era preciso ordená-lo. Para isto, a Câmara, em 1814, criou o cargo de Capitão do Mato para tentar coibir o número de escravos fugitivos que viviam pelos matos da região[iv].
Para períodos posteriores, através das informações remetidas ao Presidente de Província pelo administrador da Mesa de Renda do Município, em 21 de novembro de 1877, sabe-se que Macaé possuía um total de 11.599 escravos matriculados desde o ano de 1872 até o de 1876[v].
Como não poderia deixar de ser, e também de modo similar a outras searas, a região de Macaé, repleta de escravos, conviveu durante todo o século 19 com inúmeros quilombos e quilombolas. Os quilombos poderiam ser formados por centenas de pessoas, ou por apenas três ou quatro indivíduos. Normalmente surgiam em momentos de desacordos nas relações cotidianas entre escravos e senhores e seus capatazes, ou em épocas de crise política aguda, em função de uma desorganização maior.
A fuga e instalação do negro no quilombo colocava em xeque a sociedade patriarcal, além de resgatar, mesmo que momentaneamente (até nova recaptura possível), a condição de ser humano aviltado pela condição de mercadoria. A evasão de escravos, é claro, gerava prejuízos ao proprietário, ao Estado, à Coroa, que passaram a investir na manutenção da ordem, recaptura e castigos exemplares aos reintegrados à condição de cativos.
A fuga, então, era uma das formas de negação da sociedade opressora que anulava os seres humanos eliminando a possibilidade de usar suas línguas, religiões e estilos de vida. Dessa forma, a criação de quilombos fez parte da sociedade escravista. Onde havia uma, necessariamente surgiria a outra organização.
Ainda que fossem formados basicamente por escravos fugidos, tal não significa que outros grupos da população também não recorressem a eles quando sentiam necessidade de proteção e esconderijo. Tudo leva a crer que, em quilombos menores, a população seria predominantemente de escravos fugidos. Já nos maiores haveria a presença de elementos étnicos diferentes. Esta diferenciação poderia ser explicada, relacionando-a às condições econômicas do grupo. “Somente um grupo estável, com organização social, política e econômica forte, poderia permitir outros elementos em seu interior”[vi].
Tal estrutura, contudo, entrava em choque sempre que o quilombo se tornava perigoso para a população ou quando constituía um empecilho ao aumento da fronteira agrícola. As florestas, os índios e os quilombolas eram problemáticos à expansão da fronteira, porque quase sempre eram considerados hostis à população. Logo, o seu extermínio tornava-se condição essencial para a possibilidade do estabelecimento de novas áreas cultiváveis. “Os quilombolas, ao penetrarem nas matas e criarem as condições propícias ao desenvolvimento da agricultura, desencadeavam a cobiça por novas terras que, graças a eles, tornavam-se aptas à exploração. E então, os fazendeiros passavam a ter interesses cada vez maiores no extermínio do quilombo e, para isso, lançavam mão dos mais variados mecanismos para auxiliar as autoridades locais: colocavam seus escravos à disposição dos chefes das tropas; forneciam alimentos e estadias; participavam dos grupos de perseguição, havendo casos, inclusive, de fazendeiros que utilizaram espiões colocando-os no interior dos quilombos com o objetivo de conhecer suas fraquezas e o melhor meio para serem atacados”[vii].
O Quilombo de Carucango
Carucango seria um escravo proveniente de Moçambique[viii]. Fugira de seu senhor, o português Antônio Pinto, em uma noite, formando, juntamente com outros escravos da localidade, um quilombo numeroso. Na fuga, roubaram o que puderam da fazenda, principalmente ferramentas e alimentos. A área de atuação dos quilombolas era a divisa de Macaé com os atuais municípios de Trajano de Morais e Conceição de Macacu. Provavelmente, o quilombo ficava estabelecido na Serra do Deitado, no distrito de Crubixais.
Junto com um grupo crescente de fugitivos, Carucango percorria à noite as fazendas da região insuflando os escravos a se evadirem também. Numa destas incursões, ao invadir a fazenda de seu ex-senhor, matou-o. Depois, tentou assassinar um outro fazendeiro, Chico Pinto, irmão do assassinado, que vivia há muitos anos com uma mulata de nome Josepha. Ao ter sua casa atacada pelo grupo, Chico Pinto conseguiu dar um tiro no braço de Carucango, mas, por via das dúvidas, resolveu, no dia seguinte, deixar a casa de tapera e buscar proteção na cidade.
O medo do crescente poder de Carucango determinou que as autoridades proporcionassem condições ao coronel Antão de Vasconcelos, que era chefe do Distrito Militar da Capitania do Espírito Santo, para organizar uma expedição contra o quilombo. Essa expedição contava não só com soldados, mas também com grande número de moradores da região, inclusive da família do senhor assassinado.
O grupo conseguiu prender um negro que fazia parte do bando de Carucango e, por meio dele, localizou o quilombo. É Lamego quem o descreve: “Um chapadão a perder de vista era a sede do Quilombo e se achava coberto, em grande parte, de muitas roças de milho, feijão e outros cultivos. Tudo oculto pela mata virgem circundante. No centro havia uma casa apoiada nos fundos por três grandes pedras. Como se sabia que no quilombo existiam cerca de duzentos escravos foragidos, não era possível a tão pequena habitação abrigar tanta gente. Havia certamente algum mistério a ser desvendado”[ix].
Depois da troca de tiros, o grosso da população quilombola teria surgido do interior da casa, da floresta e de trás das pedras. Mas, mesmo assim, as tropas teriam conseguido dizimar a maioria. Uns poucos fugiram e o restante teria ficado em poder dos soldados. Carucango estava liderando o grupo que se entregara à polícia. Saiu “vestido com hábito sacerdotal, trazendo ao peito um rico crucifixo de ouro, ante o qual todos se descobriram e abaixaram as armas”[x].
Chegando à frente do filho do seu ex-senhor, assassinado por ele próprio, retirou do interior do hábito uma pistola e desferiu-lhe dois tiros mortais. Logo, a população que ali estava e as autoridades mataram-no com golpes de foice, cortaram sua cabeça, colocando-a à beira da estrada para que servisse de exemplo aos demais escravos da região.
Pode-se perceber que Carucango não é um simples bandido, como afirma Vasconcelos. Ele é um líder respeitado porque proclama uma justiça para seus companheiros mediante a fuga. Esta era encarada pelos escravos que o seguiam como um mecanismo para a liberdade que Carucango afirmava ser possível. Por isso, os negros das senzalas ajudavam-no a fugir todo o tempo de seus perseguidores. Além disso, ele é um líder que os escravos em dificuldades procuravam a fim de resolver seus problemas.
Foram encontradas “roças de milho, feijão e outros cultivos” no quilombo. Havia, pois, uma relativa independência da população quilombola no tocante à alimentação, o que era de muita valia para a manutenção de uma comunidade com tal porte. Esta “independência” dos quilombolas aponta para o fato de que Carucango não queria ficar escondido como os outros líderes (até mesmo os localizados em sua área). Ele poderia, graças à estrutura montada, sobreviver com seu povo. Contudo, Carucango preferia o ataque, preferia mostrar-se e auxiliar a outros escravos.
Carucango foi homenageado com o nome de um rio e de uma serra, no município de Conceição de Macabu, a fim de que sua luta e coragem estejam sempre vivas em nossas memórias.
Diogo Belloni,
militante da UJR
[i] Luís Gama foi jornalista e escritor. Filho de uma cativa com seu senhor,foi alforriado ainda criança. Publicou livros, manifestos; redigiu e dirigiu importantes jornais engajados na luta contra o escravismo, além de ter criado entidades e participado de ações diretas para libertar escravizados.
²BARBOSA, P. Almanaque histórico: João Cândido: a luta pelos direitos humanos. Brasília: Abravídeo, 2008.
³SAINT-HILAIRE, A. Viagem pelo distrito dos diamantes e litoral do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1974.
4ARQUIVO NACIONAL (Brasil), 1814-1828, Livro da Câmara Municipal de Macaé.
5ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 1877, Mesa de Renda do Município de Macaé.
6AMANTINO, M. O mundo dos fugitivos: Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX. 1996.
7AMANTINO, M. Banditismo social e quilombolas no Rio de Janeiro, século XIX. In: Cadernos do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa em História Social. Rio de Janeiro, UFRJ, v.1, n. 1, p. 21-33, 1995.
8O tráfico na região Leste da África incrementou-se a partir de 1815, em função do aumento das pressões inglesas para proibir o tráfico ao Norte do Equador (tratados comerciais da Inglaterra com Portugal de 1815 e 1817). Em 1812, os portugueses instalaram uma feitoria em Quelimane e os traficantes de Cuba e do Brasil puderam comprar escravos diretamente. Em 1813 eram 8.000, em 1820 subiram para 19.000. Em 1828, 34.500, e em 1829, 30.400. Depois de 1830, os escravos de Moçambique constituíram um dos maiores grupos no Rio de Janeiro.
9LAMEGO, A. Macaé à luz de documentos inéditos. In: Anuário Geográfico do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, n.11, p. 97, 1958.
10VASCONCELOS, A. Evocações: crimes célebres em Macaé. Rio de Janeiro: B. Aguilla Edt., 1911.
  
Posted: 02 Dec 2012 06:53 AM PST
Leia em nosso site: O samba brilha
Nascido e criado no Rio de Janeiro, Marcos André da Silva, presidente e mestre de bateria do bloco Samba Brilha e membro do Círculo Palmarino, organização nacional do movimento negro na luta contra o racismo e pelos direitos civis, conhece as ruelas, os morros, os bairros do subúrbio e zona sul por onde o samba, com  suas rodas, seus batuques e melodias, atravessam a cidade. O bloco surgiu no Centro do Rio, mais propriamente na Cinelândia, berço de manifestações políticas. Foi construído há seis anos com o objetivo de resgatar as lutas sindicais e populares e seus protagonistas.  Por ser um bloco que nasceu na escadaria de um botequim, num local onde as passeatas por melhores salários e uma vida digna estiveram sempre presentes no calendário histórico da cidade, criou-se a perspectiva de que esse bloco apresentasse, em seus enredos, letras e músicas, reivindicações políticas pelos partidos de esquerda do Rio de Janeiro e, com isso, resgatasse esse palco político e efervescente da Cinelândia.
 “Nós entendemos que a Cinelândia, por causa da sua história de ser um palco de luta dos movimentos sociais de muitos anos, desde a Passeata dos Cem Mil, da luta pela anistia, merece ser preservada e respeitada como patrimônio histórico e político. Por isso, o Samba Brilha está junto com todos que desejam preservar essa história”, afirma mestre Marco André.  O samba, na época da ditadura, foi um dos movimentos musicais mais reprimidos pelos órgãos de repressão. Compositores como Candeia, Noca da Portela e Beto Sem Braço, entre outros, compunham sambas de resistência e exaltavam a necessidade da libertação do povo. Sambas que retratavam questões sociais, a luta do povo por uma vida mais digna. “O samba tem que continuar brilhando. Ele representa o carro-chefe das diversas histórias cantadas nos enredos deste país” esclarece Marco André.
Depois de seis anos de bloco, foi necessário avançar nesse compromisso com a cultura popular. As rodas de samba hoje contam as histórias das diversas lutas do nosso povo. Essa atividade acontece no segundo sábado de cada mês. A primeira atividade aconteceu em março e teve como mote a homenagem às mulheres, no 8 de Março, Dia Internacional das Mulheres. Depois foi a vez do padroeiro dos trabalhadores e sambistas, São Jorge Guerreiro, quando a cor vermelha tomou conta do ambiente. Em maio, a classe trabalhadora teve sua vez, e o Primeiro de Maio foi saudado com muito samba referente às lutas dos trabalhadores.
Nesse ritmo, no mês de outubro a lembrança foi a luta dos professores e suas reivindicações. Também nesse mês, o Samba Brilha homenageou o grande compositor Luís Carlos da Vila, que completa cinco anos de sua morte física, pois seus sambas ficarão eternamente na memória de  todos os brasileiros. Quem não se lembra de Quizomba, samba-enredo que homenageou o herói Zumbi dos Palmares e a luta de libertação dos Quilombos?
A Verdade comparece sempre a essa roda de samba. Marcos André assim definiu a importância do jornal: “Nós entendemos que o jornal A Verdade é um veículo de comunicação do proletariado. Tenho o maior orgulho de ser contribuinte desse jornal. O Samba Brilha tem A Verdade como grande parceiro, nas questões culturais, nas questões políticas e nas questões raciais. Estamos propondo, que no mês de novembro, A Verdade seja o grande homenageado no Samba Brilha, no intuito de ajudar a fortalecer ainda mais esse veículo de comunicação que discute o povo brasileiro, a cultura brasileira, a raça negra, o socialismo e o samba”.
Denise Maia, Rio de Janeiro 
  
Posted: 02 Dec 2012 06:46 AM PST
Leia em nosso site: O cinema e a consciência negra
Segundo a tese mais aceita no meio acadêmico, no ano de 1538 o primeiro grupo de escravos negros vindos da África aportaram na Bahia trazidos pelo traficante de pau-brasil Jorge Lopes Bixorda. A partir de então, foram milhões de negros e negras trazidos ao Brasil para servir de mão de obra escrava pelos senhores de engenho, traficantes de pau-brasil, mineradores, barões do café e latifundiários de todos os matizes. Os negros africanos eram trazidos para o continente americano em navios com um índice de mortalidade grande, pois as condições da viagem eram as piores possíveis, sem água potável, médicos ou comida suficiente.
Seguiram-se quase 400 anos de escravidão oficial e outros tantos de escravidão clandestina. Todos esses anos de escravidão negra geraram uma dívida histórica do Estado capitalista brasileiro com os povos negros que vieram para o Brasil forçadamente e foram determinantes para construir, cultural, sociológica e economicamente, o país que temos hoje. Com o fim da escravidão e o desenvolvimento de novas tecnologias na produção, os negros passam a ocupar postos de trabalho que necessitavam de menos capacitação profissional e consequentemente vão ficando à margem. Enquanto os industriais e agroexportadores de café preferiam imigrantes europeus com experiência em trabalhos mais elaborados, os negros iam ficando submetidos a subempregos e mendicância, formando as primeiras favelas brasileiras nas cidades de grande população negra, como o Recife, Salvador e o Rio de Janeiro.
Zumbi
Porém, toda essa história de opressão não ficou sem resposta por parte de negros e negras, e várias revoltas e rebeliões se inscrevem na história de nosso país. Uma formação característica da época das rebeliões escravas era o quilombo. Formados por negros e negras fugidos dos engenhos e latifúndios, os quilombos eram grandes aglomerações num sistema de produção cooperativa e divisão de tarefas coletivas. O mais famoso quilombo foi o de Palmares, liderado por Zumbi.
Na verdade, Palmares era um conjunto de dez quilombos que, em meados de 1670, atingiu a soma de 20 mil habitantes, segundo dados da época. Foi inspirado nesta história que Cacá Diegues fez o filme Quilombo. Com atuações memoráveis de Zezé Mota e Antônio Pompeu (no papel de Zumbi) o filme retrata muito bem o cotidiano de Palmares, a forma de tomar as decisões, as relações entre os quilombolas e as relações com os brancos. Com roteiro baseado nos livros Ganga Zumba (João Felício dos Santos) e Palmares (Décio de Freitas), o filme retrata a fuga de um grupo de escravos de um engenho em Pernambuco, por volta de 1650, e a subida ao Quilombo dos Palmares; com eles vai Ganga Zumba, príncipe em África e líder militar. Com o passar dos anos, o seu afilhado Zumbi assume a liderança militar, e depois de discordar do acordo entre Ganga Zumba e o governador de Pernambuco, assume a liderança política e religiosa de Palmares, enfrentando um dos maiores exércitos da história colonial brasileira. O filme conta ainda com uma trilha sonora à altura, dirigida por Gilberto Gil.
Palmares não foi a única resistência negra. A revolta dos Malês, na Bahia, os incêndios dos canaviais em Pernambuco e Alagoas, a Balaiada, no Maranhão, são apenas alguns exemplos de rebeliões contra a situação da escravidão. Porém, na história que se conta nas escolas, não é bem assim. “Ao tratar das lutas dos negros brasileiros e africanos, uma das características mais frequentes da historiografia oficial é classificá-las à margem da história (…) O que têm a ver os negros com o alargamento das fronteiras? Ou com a independência? Ou com a República? Como não se pode alijá-los do 13 de Maio, transformam-nos em figuração: uma gente trabalhadora, um tanto bruta, de quem os grandes homens tiveram compaixão, dando-lhes a liberdade”, diz Júlio José Chiavenato em seu livro As lutas do povo brasileiro. Mas por que interessa apagar de nossa história esse período?
Ao contrário do que afirmam os historiadores oficiais, o fim da escravidão aconteceu porque ficou simplesmente inviável para os capitalistas manterem tal instituição. Inviável economicamente, porque os negros resistiam cada vez mais, ateando fogo a engenhos, colocando pedaços de carne podre no meio da moagem da cana, fugiam, se rebelavam matando feitores e senhores de engenho; inviável socialmente, porque havia uma comoção pública abolicionista crescendo, principalmente entre os estudantes e trabalhadores urbanos, como fazia notar Castro Alves em seus versos: “Cai, orvalho do sangue do escravo/ cai, orvalho, na face do algoz/ cresce, cresce, seara vermelha/ cresce, cresce vingança feroz”. Portanto, o que acabou, principalmente, com a escravidão, foram as lutas dos negros e trabalhadores e não a boa vontade de nenhuma princesa. E mesmo com todas essas lutas, ainda assim, os negros herdaram dificuldades e preconceitos que se arrastam até os dias atuais.
Quanto vale ou é por quilo?
Um bom panorama destas dificuldades e preconceitos vividos hoje pelos negros pobres é o filme de Sérgio Bianchi, Quanto vale ou é por quilo? Com um roteiro bastante original, que mescla cenas históricas com acontecimentos do cotidiano, o filme nos apresenta a história de escravos e escravas negras deparados com uma sociedade hostil e hipócrita, que apresenta como solidários os brancos que, coniventes com a escravidão, dão migalhas de direitos aos negros próximos. E o brilhantismo do filme está exatamente no paralelo que faz com a atualidade, na atuação de ONGs e entidades beneficentes, que movimentam milhões de reais por ano e, quando resolvem algo, são problemas individuais, mantendo o mesmo sistema de opressão existente.
O importante do filme é exatamente a demonstração de que são os mesmos sentimentos que moviam e movem os beneficentes na busca por salvação ou mesmo ganhos pessoais. Uma das contas que o filme revela é emblemática: “Em todo o País, apenas em entidades que prestam assistência a menores carentes, calcula-se que sejam movimentados mais de 100 milhões de dólares por ano. Cada criança carente corresponde, nesse novo mercado, à criação de cinco novos empregos. (…) de acordo com essa funcionária, temos cerca de dez mil crianças abandonadas nas ruas. Se pegássemos os 100 milhões de dólares, quantia estimada de movimentação financeira dessas entidades que atendem menores carentes, e dividíssemos pelo número estimado de crianças, que são dez mil, cada uma receberia 10 mil dólares por ano. Com esse dinheiro seria possível comprar um apartamento de quarto e sala para cada um deles, a cada dois anos.”
No próximo dia 20 de novembro comemoramos o Dia da Consciência Negra. Criado no início da década de 70 do século passado, em oposição ao 13 de Maio que se apresenta como a data em que a princesa Isabel libertou os escravos, a data marca o dia da morte de Zumbi (aquele que nunca morre, em quimbundo, linguagem de origem bantu muito comum entre os escravos trazidos ao Brasil).
Nesse dia, a melhor forma de comemorar é organizar a luta contra o racismo e a opressão que ainda hoje persiste sobre os negros em nosso país, e uma boa forma de organizar essa luta é com cine-debates nas universidades, escolas, bairros populares e locais de trabalho com esses dois filmes, Quilombo Quanto vale ou é por quilo?, pois é importante combater o mito de que vivemos numa democracia racial e que o racismo ficou no passado.
Yuri Pires,
critico de cinema de A Verdade
  
Posted: 02 Dec 2012 06:37 AM PST
Leia em nosso site: A importância do quadro para a revolução
O que é um quadro? Devemos dizer que um quadro é um indivíduo que alcança o suficiente desenvolvimento político para poder interpretar as grandes diretrizes emanadas do poder central, torná-las suas e transmiti-las como orientação à massa, percebendo, além disso, as manifestações dessa massa com aos seus desejos e motivações. É um indivíduo de disciplina ideológica e administrativa que conhece e pratica o centralismo democrático e sabe avaliar as contradições existentes no método para aproveitar ao máximo suas múltiplas facetas; que sabe praticar, na produção, o princípio da discussão coletiva e responsabilidade única; cuja finalidade está provada e cujo valor físico e moral se desenvolveram no compasso de seu desenvolvimento ideológico, de tal maneira que está sempre disposto a enfrentar qualquer debate e responder até com sua vida pela boa marcha da Revolução. É, além disso, um indivíduo com capacidade de análise própria, o que lhe permite tomar decisões necessárias e praticar a iniciativa criadora de modo que não se choque com a disciplina.
O quadro, pois, é um criador, um dirigente de alta estatura, um técnico de bom nível político, que pode, raciocinando dialeticamente, levar adiante seu setor de produção ou desenvolver a massa desde o seu posto político de direção.
Este exemplar humano, aparentemente rodeado de virtudes difíceis de alcançar, está, no entanto, presente no povo de Cuba, e nós o encontramos todo dia. O essencial é aproveitar todas as oportunidades que há para desenvolvê-lo ao máximo, para educá-lo, para tirar de cada personalidade o maior proveito e convertê-la no valor mais útil possível à nação.
Consegue-se o desenvolvimento de um quadro na labuta diária. Mas deve-se empreender a tarefa, além disso, de um modo sistemático, em escolas especiais, onde professores competentes sejam exemplos para os alunos, favorecendo a mais rápida ascensão ideológica.
Num regime que inicia a construção do socialismo, não se pode supor um quadro que não tenha um alto desenvolvimento político, mas por desenvolvimento político não se deve entender só o aprendizado da teoria marxista; deve-se também exigir a responsabilidade do indivíduo pelos seus atos, a disciplina que restringe qualquer debilidade transitória e que não esteja em conflito com uma alta dose de iniciativa, a preocupação constante com todos os problemas da Revolução. Para desenvolvê-lo é necessário começar por estabelecer o princípio seletivo na massa, é ali onde é necessário buscar as personalidades nascentes provadas no sacrifício ou que começam agora a mostrar suas inquietudes, e levá-las a escolas especiais, ou, na falta delas, para cargos de maior responsabilidade que as ponham à prova no trabalho prático.
Assim fomos encontrando uma multidão de novos quadros, que se desenvolveram nestes anos; mas seu desenvolvimento não foi uniforme, posto que os jovens companheiros se viram frente à realidade da criação revolucionária sem uma adequada orientação de partido. Alguns triunfaram plenamente, mas há muitos que não puderam fazê-lo completamente e ficaram na metade do caminho, ou simplesmente se perderam no labirinto burocrático ou nas tentações que dá o poder.
Para assegurar o triunfo e a consolidação total da Revolução, necessitamos desenvolver quadros de diferentes tipos; o quadro político, que seja a base de nossas organizações de massa, e que as oriente através do Partido Unido da Revolução Socialista* (já se está começando a estabelecer as bases com as escolas nacionais e provinciais de Instrução Revolucionária e com os estudos e círculos de estudo de todos os níveis); também necessita-se de quadros militares para os quais se pode utilizar a seleção que a guerra fez de nossos jovens combatentes, já que ficou com vida uma boa quantidade, sem grandes conhecimentos teóricos, mas provados no fogo, provados nas condições mais duras da luta e de uma fidelidade a toda a prova com o regime revolucionário, a cujo nascimento e desenvolvimento estão intimamente ligados desde as primeiras guerrilhas da Sierra. Devemos promover também quadros econômicos que se dediquem especificamente às tarefas difíceis da planificação e às tarefas da organização do Estado Socialista nestes momentos de criação.
É necessário trabalhar com profissionais, estimulando os jovens a seguir algumas das carreiras técnicas mais importantes para tentar dar à ciência o tom de entusiasmo ideológico que garanta um desenvolvimento acelerado. E é imperativo criar a equipe administrativa que saiba aproveitar e harmonizar os conhecimentos técnicos específicos com os demais e orientar as empresas e outras organizações do Estado para integrá-las ao forte ritmo da Revolução. Para todos eles, o denominador comum é a clareza política. Esta não consiste no apoio incondicional aos postulados da Revolução, mas sim num apoio racional, numa grande capacidade de sacrifícios e numa grande capacidade dialética de análise, que permite fazer contínuas contribuições, em todos os níveis, à rica teoria e à prática da Revolução. Estes companheiros devem ser selecionados na massa, aplicando-se o princípio único de que o melhor sobressaia e que ao melhor sejam dadas as maiores oportunidades de desenvolvimento.
Em todos estes lugares, a função do quadro, apesar de ocupar frentes distintas, é a mesma. O quadro é a peça mestra do motor ideológico que é o Partido Unido da Revolução. É o que poderíamos chamar de parafuso dinâmico deste motor: parafuso enquanto peça funcional que assegura seu correto funcionamento, dinâmico enquanto não é um simples transmissor para cima ou para baixo de lemas e demandas, mas um criador que ajudará o desenvolvimento das massas e a informação dos dirigentes, servindo de ponto de contato com aqueles. Tem uma importante missão de vigilância para que não se liquide o grande espírito da Revolução, para que esta não durma, não diminua seu ritmo. É um lugar sensível; transmite o que vem da massa e lhe infunde o que orienta o Partido.
Desenvolver os quadros é, pois, uma tarefa inadiável no momento. O desenvolvimento dos quadros tem sido tomado com grande empenho pelo governo revolucionário; com seus programas de bolsa de acordo com princípios seletivos, com os programas de estudo para os operários, dando diferentes oportunidades de desenvolvimento tecnológico, com o desenvolvimento das escolas secundárias e as universidades abrindo novas carreiras, com o desenvolvimento, enfim, do estudo, do trabalho e da vigilância revolucionária como lemas de toda a nossa pátria, baseados fundamentalmente na União de Jovens Comunistas, de onde devem sair os quadros de todo tipo e ainda os quadros dirigentes da Revolução no futuro.
Comandante Ernesto Guevara de La SernaCuba Socialista, setembro de 1962
* O primeiro esforço das organizações revolucionárias cubanas pela constituição de um partido marxista-leninista unificado foi a criação das Organizações Revolucionárias Integradas (ORI), agrupando num único organismo político o Movimento 26 de Julho, o Partido Socialista Popular e o Diretório Estudantil Revolucionário. Depois se passou à formação do Partido Unido da Revolução Socialista, que posteriormente deu origem ao Partido Comunista de Cuba.
  
Posted: 02 Dec 2012 06:30 AM PST
Leia em nosso site: As gaiolas da China capitalista
Apesar de alguns revisionistas seguirem afirmando que a China é um país socialista, os fatos insistem em demonstrar que a economia chinesa, em que pese ainda ter um grande número de empresas e bancos estatais, é, de fato, uma economia capitalista e seus governantes adotam cada vez mais políticas de exclusão dos pobres, o que é uma característica dos governos capitalistas.
Para garantir o êxito de uma feira religiosa que ocorreu em 20 de setembro, as autoridades da Província de Jiangxi, no sul da China, inspiradas no pensamento de Deng Xiaoping e no filme norte-americano Planeta dos Macacos, decidiram colocar os mendigos da cidade em gaiolas. Os que não aceitaram a humilhação foram levados para um local desconhecido.
Os responsáveis da feira justificaram a medida da seguinte forma: “Esse ano nós decidimos que não queríamos mendigos vagando pela feira, constrangendo nossos visitantes e estragando o evento.” Outro organizador explicou assim o uso das gaiolas: “Não tivemos escolha a não ser bani-los do local. Vimos nas gaiolas uma boa solução para todos. As pessoas ainda podem dar dinheiro, mas não são mais assediadas e seguidas no festival, onde estão passando um dia em família. Os mendigos estão “confortáveis” em suas gaiolas. As pessoas dão comida e água como presentes. De certa maneira, é melhor eles estarem ali do que ter que encontrar um lugar na rua.”
Semelhantes às usadas em zoológicos, as gaiolas são baixas o que obriga os adultos a ficarem sentados, pois não cabem em pé. Apesar de serem “livres” para sair das gaiolas, os mendigos que decidem sair são “banidos da área do festival e obrigados até mesmo a deixar a cidade”.
Acontece que os mendigos não surgiram do nada. Eles são frutos de uma política que tirou a terra dos camponeses e a entregou nas mãos de grandes companhias estrangeiras que foram instaladas na China. Eles foram gerados também pelas reformas econômicas iniciadas na década de 70 sob o comando de Deng Xiaoping, que criou as Zonas Econômicas Especiais, promoveu ampla abertura para o capital estrangeiro e estimulou o crescimento da burguesia nacional. Tais reformas expulsaram milhões de camponeses do campo, deixando-os desempregados, e privatizou a terra nas cidades, o que levou milhares de famílias serem despejadas de suas casas e se tornarem moradores de rua e sem emprego,  transformando-se em mendigos.
Mas enquanto a miséria cresce na China e torna-se impossível escondê-la, a riqueza do povo chinês vai para o exterior ou para mãos privadas. O jornal New York Times revelou em outubro que os familiares do primeiro-ministro chinês Wen Jiabao, que terminará o mandato em novembro, têm uma fortuna de US$ 2,7 bilhões. Segundo o jornal, os nomes de parentes de Wen Jiabao aparecem em vários documentos de empresas oficialmente chefiadas por amigos, colegas de trabalho ou parceiros de negócios. Entre os investimentos da família de Wen estão um condomínio em Pequim, uma fábrica de pneus, a empreiteira que construiu o Estádio Ninho de Pássaro para a Olimpíada de 2008 e a Ping An Seguros, gigante mundial na área de serviços financeiros. Os familiares do premiê têm ainda participações em bancos, teles, projetos de infraestrutura e resorts para turistas e offshores abertas em paraísos fiscais. O jornal revela ainda que as empresas dos parentes de Wen tiveram apoio financeiro de estatais como a China Mobile, uma das maiores teles do país. Aliás, grupos privados receberem apoio do estado para impulsionar seus negócios ou para evitar uma falência é também uma prática bastante comum no capitalismo. Como se vê, a família de Wen Jiabao cumpriu à risca o pensamento do líder Deng: “ser rico é glorioso”.
Entretanto, para enganar as massas trabalhadoras do país, o governo chinês excluiu em outubro, da Assembleia Nacional Popular (ANP) e do Partido Comunista Chinês (PCC), o dirigente Bo Xilai. Bo Xilai deve responder na Justiça por acusações de corrupção generalizada quando administrava a Província de Chongqing e de ter sido cúmplice de sua mulher Gu Kailai na morte de um empresário britânico.
Porém, a classe operaria chinesa não está alheia a tudo isso. Pelo contrário, cresce o número de greves e de manifestações, o que tem aumentado em muito a dor de cabeça dos governantes.
Em 6 de outubro, milhares de trabalhadores da Foxconn, que fabrica componentes para o iFhone 5, da Apple, entraram em greve contra os baixos salários, pela diminuição da jornada de trabalho e exigindo melhores condições de trabalho. A Foxconn é a maior fabricante mundial de componentes para computadores, atuando na montagem de produtos para Apple, Sony, Intel e Nokia, entre outras empresas e suas instalações na China empregam até 1,1 milhão de trabalhadores.
Em 15 de outubro, os operários da fábrica Henan Xinfei Electric Co. Ltd. decepcionados com os salários baixos e após realizar vários dias de greve e manifestações na cidade de Xinxiang, receberam aumento no salário mensal de 300 yuans (US$ 48) a partir de outubro e outro aumento de 200 yuans a partir do início de 2013. O salário mensal de um trabalhador da Xinfei é de cerca de 1.200 yuans (US$ 184,6), menor que o salário médio de um trabalhador da cidade, que é de 2.160 yuans (US$ 332,3). A empresa também prometeu pagar adicionais de trabalho para condições de altas temperaturas ou horas extras.
Em setembro, em outra fábrica da Foxconn no norte da China, cinco mil policiais foram destacados para reprimir uma greve de 79 mil operários após o suicídio de um trabalhador.
O fato é que o “socialismo de mercado” chinês nada tem de socialismo; é puro capitalismo. Significa apropriação privada das riquezas produzidas pelos trabalhadores e, em decorrência, a exploração e o empobrecimento do povo e o enriquecimento de uma minoria com o apoio do Estado. Com efeito, de acordo com levantamento da Pesquisa Financeira Domiciliar da China, os 10% domicílios chineses mais ricos têm 57% da renda e 85% de toda a riqueza do país.
Os trabalhadores chineses levaram milhares de anos para derrubar as muralhas da opressão, da exploração e da intervenção estrangeira. Conseguiram em 1949 com o triunfo da Revolução Popular da China. Dessa vez, bastarão algumas décadas para enterrar e sepultar corretamente a burguesia e seu modo de produção capitalista e erguer uma sociedade fraterna, humana e livre, um verdadeiro socialismo.
Lula Falcão,
membro do comitê central do PCR
  
Posted: 02 Dec 2012 06:23 AM PST
Leia em nosso site: A primeira poligrafia de autores piauienses
A obra Dicionário de Sabedoria dos Piauienses representou um marco dentro da literatura do Piauí, pois colocou sob uma nova ótica a maneira de ser vista a primeira poligrafia de autores piauienses. As palavras, por si só, possuem uma grande capacidade de transformação quando colocadas de maneira sincronizadas dentro de concepções inovadoras e, neste caso, estas mesmas (as ideias) foram aplicadas brilhantemente na obra acima citada.
Cada página folheada vai revelando, paulatinamente, axiomas inspirados e suas várias nuances que perpassam o limite dos padrões estabelecidos pelos pensadores. As ideias expressas em livros desse gênero, que são os fragmentos dessa obra, têm vida própria, e a sapiência tende a andar de “mãos dadas” com a criatividade.
Durante o meu “passeio cultural” por este livro-rico, tanto na forma como em conteúdo, verifiquei que constavam no Dicionário de Sabedoria dos Piauienses diversos autores contribuindo para o engrandecimento dessa obra, com suas frases cheias de verdade, dentre os quais se destacam: Mário Faustino dos Santos e Silva; Maria Elizabeth Rego Oliveira; Eliane Madeira Moura Fé Dantas; Claudete Maria Miranda Dias; José Camilo da Silveira Filho e Cineas das Chagas Santos, entre outros.
O primeiro, dos que foram mencionados acima, nasceu em Teresina a 22 de outubro de 1930. Ele estreou em sua carreira literária publicando dois poemas em 1948, no jornal paraense Folha do Norte, intitulados Dois Motivos da Rosa e Poemas do Anjo. A linguagem poética encontrada é de estilo conciso, enxuto, e emprega poucos adjetivos. As principais figuras de linguagem utilizadas são a metáfora (alcançando tons sublimes), anáfora e antítese. A passagem transcrita abaixo, tirada de uma das poesias de Mário Faustino, ilustra tudo o que foi colocado sobre ele: “Amante: coração queimado”.
Logo em seguida, com muita dinamicidade e inteligência, surge a Maria Elizabeth, também, chamada de Beth Rego. Nasceu no Rio de Janeiro, no dia 2 de fevereiro de 1960. É poetisa e militar. Em 1996, com o livro Ofício da Palavra, obteve o primeiro lugar na categoria poesia no concurso literário da Fundação Cultural Monsenhor Chaves. Essa mulher, tão forte e corajosa, expressa toda a sua delicadeza e amor nessa seguinte menção: “A vida sem amor não tem sentido, é um passar de horas e dias, é um vazio”.
Em terceiro lugar encontra-se Eliane Madeira, natural de Simplício de Mendes, nascida a 16 de abril, em 1957. Publicou dois livros: Álbum de Fotografias e Por Dentro da Alma, em 2001. Em sua citação, escreve o seguinte: “A poesia é a essência da alma que alivia o coração”.
Claudete Maria Miranda nasceu em 11 de janeiro no ano de 1951. Ela tem vários trabalhos publicados nas seguintes revistas: PresençaCadernos de Teresina e Espaço e Tempo. Fez curso de interpretação e técnica vocal. Em um trecho do seu aforismo, diz: “Todo povo tem história, é preciso difundi-la, pesquisá-la”.
O quinto pensador, chamado José Camilo da Silveira Filho, também conhecido como Camilão, é um político, escritor e professor universitário brasileiro que tem sua história marcada pelo Piauí. Ele é membro da Academia Brasileira de Letras. O seu apotegma diz o seguinte: “Pode-se dizer-se que tudo aquilo que existe no homem comunica algo ou muitas coisas”.
Cineas Santos nasceu em Campo Formoso, Município de Caracol, Sertão do Piauí. É poeta, cronista, intelectual, professor, advogado, agente cultural, editor e livreiro atuante no Brasil. Também autor da letra do Hino Oficial de Teresina, em parceria com o músico Erisvaldo Borges. Entre as várias máximas que ele já escreveu, existe uma salientando o medo: “O medo nos faz arredios, desconfiados, tristes, paranoicos”.
Enfim, todos os seis pensadores escolhidos por mim para representar os demais que ajudaram a tornar realidade esse livro tão importante são grandiosos, e conseguiram passar o que sentiam por meio dos seus ditos, multiplicadores de sabedoria. E, por último, o sétimo autor, que a ousadia e sagacidade o transformaram em sua obra, convertendo-a em realidade. O nome desse “mágico” com as palavras: José Antônio da Silva.
Maria de Lourdes Oliveira Cruz
Tem especialização em docência superior pela faculdade Centro de Ensino Unificado de Teresina (Ceut). Formada em espanhol (Uespi) e francês (UFPI).   
  
Posted: 02 Dec 2012 06:12 AM PST
Leia em nosso site: Doenças negligenciadas: retrato de um país desigual
Já se passou mais de um século desde que médicos como Oswaldo Cruz e Carlos Chagas denunciaram que determinadas doenças estavam diretamente ligadas ao subdesenvolvimento social.
Doenças como a dengue, doença de Chagas, leishmaniose, malária, esquistossomose, hanseníase e tuberculose ainda matam um milhão de pessoas por ano no Brasil. Mas o que todas elas têm em comum? A resposta repousa num histórico de negligência repetida e no fato de que nenhuma delas está na lista de prioridades. Além disso, essas doenças resistiram ao tempo e estão presentes até hoje na vida da maioria das pessoas carentes.
Dessa forma, tendo passado mais de um século, Pernambuco mudou a forma de economia, já não depende só do plantio. Ao contrário, tem recebido muitos investimentos e, falando em termos econômicos, segundo especialistas, é um estado que está em plena ascensão. Porém, essas mazelas que insistem em assolar a vida de tantos cidadãos nos mostram a realidade do Estado de Pernambuco e do Brasil. A verdade é que a vida da maior parte da população não é tão boa assim.
Isso tudo só confirma que desenvolvimento econômico não significa o mais importante: desenvolvimento social. Uma população precisa de serviços e obras estruturais, juntamente com uma espécie de tríade de direitos que são: educação, acesso a serviços de saúde e saneamento básico.  A ausência destes três pontos favorece o aparecimento de diversas doenças que não prevalecem em condições de pobreza e contribuem para a manutenção do quadro de desigualdade, já que representam forte entrave ao desenvolvimento social.
A grande verdade é que as doenças negligenciadas estão diretamente ligadas a questões econômicas, pois, as grandes indústrias farmacêuticas não veem nessas doenças nenhum potencial de se tornarem impulsoras de compradores de remédios. Em outras palavras, são doenças que não têm um público comprador. Afinal, estão presentes na parte da população pobre e que mal consegue sobreviver.
E é justamente pela falta de investimentos da iniciativa privada e pelo esquecimento por parte da máquina pública que tanto a população carente quanto essas doenças são negligenciadas. Não se pode pensar em doenças sem pensar nas pessoas e, nesse caso, há uma dupla negligência típica do capitalismo: onde as indústrias são mais importantes que moradias, lucro é mais importante que cidadãos e onde o dinheiro vale sempre mais que os seres humanos.
Não se pode ficar esperando que um dia essas doenças sejam prioridade. É preciso muita luta para trazer direitos sociais a todos. Fazer o cidadão ser um cidadão de verdade. Só assim ele terá direito de viver sem ser presa fácil de doenças tão simples de serem evitadas. Somente em um país socialista a igualdade social será o remédio para uma população tão negligenciada quanto as doenças que ela tem.
Lene Correia, Recife
Fontes: IBGE(CENSO 2010) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
  
Posted: 02 Dec 2012 06:08 AM PST
Leia em nosso site: Famílias promovem ocupação em Teresina
Cansadas de esperar pelos programas do Governo que prometem moradia, cerca de 120 famílias organizadas pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) ocuparam, no dia 21 de outubro, um terreno da Prefeitura de Teresina, localizado na Zona Sudeste da Capital piauiense. O local estava abandonado há anos, servindo apenas para favorecer a especulação imobiliária.
A ocupação foi batizada de Olga Benario, em homenagem à grande lutadora comunista que entregou sua vida à defesa de uma sociedade mais justa e à luta contra o nazifascismo.
No dia 25, cerca de 30 famílias foram recebidas pelo secretário de governo da Prefeitura, Antônio Cláudio, que se comprometeu a dialogar com o movimento e encaminhou as famílias à Secretaria de Habitação. Em seguida, a comissão se reuniu com representantes desta Secretaria, abrindo as negociações sobre a solução do problema de moradia.
A Ocupação Olga Benario recebeu apoio dos moradores da região, e, todos os dias, dezenas de famílias que não aguentam mais viver de aluguel ou de favor na casa de parentes procuram o Movimento para se somar à luta.
Natalia Freitas e Amanda Augusta, Teresina
  
Posted: 02 Dec 2012 06:05 AM PST
Leia em nosso site: Quando o sonho vira realidade
Num clima de otimismo e fé, mais de 200 barracos de alvenaria já foram construídos na Ocupação Eliana Silva, em Belo Horizonte. “Nossa meta é transformar a ocupação em um bairro e vamos provar que isso é possível, tendo ligação oficial da luz, da água, rede de esgoto, iniciar o projeto da área de lazer e queremos construir o centro ecumênico,” disse Poliana Souza, 25 anos, mãe de uma filha, militante do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e membro da coordenação da ocupação.
Incentivados pela coordenação, boa parte das casas de alvenaria estão sendo construídas através dos mutirões. Os moradores se juntam em grupos e vão levantando as moradias. Os avanços podem ser registrados através das falas dos moradores: “Espero que, no futuro, meus filhos possam estudar. Espero que minha vida possa mudar. Agora tenho endereço fixo, comecei a trabalhar e estou juntando dinheiro para melhorar minha construção”, relata Cristina Lima, 22 anos, mãe de dois filhos. “Eu vim pra cá porque morava de favor na casa de filho e eu não pretendo depender de filho por toda vida. Depois que separei do meu marido, ele vendeu a casa e fiquei anos morando de favor. Agora estou ocupando meu tempo. Graças a Deus, não tenho nada que reclamar da ocupação. Espero construir minha casa e ficar quentinha aqui dentro. Espero que esse povo (Prefeitura e Polícia) não venha mexer com a gente aqui”, afirma Dona Cassilda dos Anjos, 57 anos.
Exemplos da capacidade popular de resolução de problemas são cotidianos nesta ocupação: uma horta comunitária está sendo organizada, e o adubo está sendo feito a partir dos restos de comida e de outros materiais orgânicos.
A creche está ganhando apoios importantes. Um projeto pedagógico para creche está sendo organizado, com apoio de um núcleo de educação formado por professores e estudantes da Faculdade de Educação da UFMG e demais apoiadores de outras instituições e entidades.
No dia 14 de outubro, a rede de solidariedade realizou a comemoração do Dia das Crianças. Foram feitas muitas brincadeiras, oficinas e distribuição de centenas de brinquedos. O dia foi encerrado com a exibição o filme “Formiguinhaz”.
Os fins de semana são ocupados com atividades esportivas e culturais. Os times de futebol masculino, feminino e infantil já estão formados e iniciando seus treinos.
O MLB e a Associação Cultural e Social de Capoeira Santa Rita, que tem como coordenador o grande capoeirista Mestre Tito, fecharam um convênio que oferece aulas de capoeira gratuita aos moradores todas as sextas e sábados.
Outros avanços acontecem na ocupação. Na questão jurídica, houve uma vitória em primeira e segunda instância, onde o agravo feito por um suposto dono de parte do terreno foi indeferido pela Justiça.
Além disso, um grupo de Chorinho irá se apresentar no dia 4 de novembro na ocupação, e o coletivo Família de Rua, responsável pelo renomado Duelo de MCs, que já ganhou expressão nacional, irá realizar uma performance dentro da ocupação no dia 25 de novembro.
Leonardo Pericles, da coordenação do MLB