Posted: 25 Nov 2010 11:57 PM PST
Fonte: ACNUR
Leila
Toplic lê para um grupo de criaças refugiadas durante uma visita ao
campo de Kakuma, no Quênia, no início do ano. (Foto: R. Gangale/ ACNUR)
Quando tinha 18 anos, Leila Toplic e sua família tiveram que fugir de
casa na devastada Bósnia Herzegovina. Eles passaram um ano em um
acampamento de refugiados na Hungria, onde Toplic se voluntariou para
ensinar a crianças refugiadas. Um ano depois, a família Toplic partiu
para os Estados Unidos, onde Leila estudou em prestigiadas universidades
em Massachusetts. Após se graduar, ela decidiu continuar investindo em
seu interesse por tecnologia e entrou para a Adobe Systems, em Seattle.
Hoje, Leila Toplic vive na capital da França, Paris, e trabalha como
gerente sênior de estratégia do consumidor em uma grande empresa do ramo
de tecnologia da computação – e parceira corporativa do ACNUR – a
Microsoft. Ela ainda trabalha como voluntária para ajudar a aumentar a
conscientização a respeito do deslocamento forçado. Em agosto, ela
viajou para o Quênia e para o sul do Sudão para ajudar o ACNUR a
documentar histórias de refugiados como parte de um novo projeto de
comunicação.
A jovem falou recentemente em Paris com o
Oficial Sênior de Informações Públicas William Spindler e a Estagiária
de Informações Públicas, Clara Souchereau. Trechos da entrevista:
Conte-nos sobre sua saída da Bósnia Herzegovina.
A guerra na Bósnia começou quando eu tinha 14 anos. Nós somos de etnia
bósnia, mas moravamos em Banja Luka, uma cidade de maioria sérvia. Foi
um conflito étnico [de 1992 a 1995] que destruiu meu país, população e
cultura. Era tempo de medo, destruição e incerteza, e tudo o que eu
podia fazer era me concentrar na minha educação. Nós permanecemos lá
durante grande parte da guerra porque pensávamos que poderia terminar
logo e não queríamos deixar nossa casa. Mas então o massacre de
Srebrenica [quase 8.000 homens e meninos bósnios] aconteceu [em julho de
1995] e nós ficamos com medo de que algo como aquilo pudesse acontecer
de novo. Nós partimos em ônibus com nossas famílias e dirigimos ao longo
de um corredor humanitário, através de campos de batalha. Não existia
garantia de que nós conseguiríamos fazer isso. O ônibus nos deixou na
fronteira sérvio-húngara, onde o ACNUR nos apanhou e levou para o
acampamento de refugiados de Nagyatad.
Como era a vida de refugiada?
Tornar-me uma refugiada foi incrivelmente difícil e uma enorme mudança
de vida. Um dia você vive uma vida normal e no outro o mundo que você
conhece é substituído por destruição e medo. Você é forçado a abandonar
tudo o que conhece e ama em nome da sobrevivência. Um dia você tem um
lar, no outro você é um refugiado… Quando eu cheguei ao acampamento,
descobri que eles haviam montado uma escola para refugiados, então eu
decidi oferecer minha ajuda e ensinar artes e inglês. O mais difícil, e
também mais recompensador para mim, foi fazer crianças pequenas rirem
novamente e ajudar os adolescentes a redescobrirem a esperança e se
prepararem para o futuro.
Como você reconstruiu sua vida?
Quando eu cheguei aos Estados Unidos minha prioridade era continuar meus
estudos, então fiz minha candidatura para entrar para a faculdade.
Entrei na faculdade Wellesley, em Massachusetts, onde cursei Estudos de
Paz e Justiça. Ao mesmo tempo, eu entrei para o Instituto Massachusetts
de Laboratórios de Mídia e Tecnologia, onde explorei meu interesse por
tecnologia, descoberto quando dava aulas de computação no acampamento de
refugiados.
Ainda na faculdade, eu continuei trabalhando em prol dos refugiados
colaborando com o ACNUR e o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas
para Mulheres. Foi uma oportunidade de conectar os jovens com algo que
me motivava muito e criar uma conexão entre estas duas importantes
causas e a futura geração de líderes. Após me graduar, entrei para Adobe
Systems em Seattle. Dois anos depois, entrei para a Microsoft.
Como você começou a trabalhar a favor dos refugiados?
Como refugiada e beneficiária da ajuda do ACNUR, eu imaginei o quão
crítica sua missão era para os milhões de pessoas que dependem de sua
ajuda todos os dias – da simples sobrevivência até a restauração da
esperança e encontro de um lar. Hoje, eu estou contribuindo para a causa
refugiada utilizando minhas habilidades de comunicação para ajudar o
ACNUR em seus esforços de engajar pessoas ao redor do mundo na ajuda aos
refugiados, e ajudando nos programas que o ACNUR e a Microsoft estão
trabalhando juntos. Por exemplo, desde 2004 a Microsoft tem parceria com
o ACNUR para construir centros comunitários de acesso a tecnologia em
acampamentos de refugiados ao redor do mundo. No final de 2010, o
programa cobrirá 32 acampamentos em 13 países.
Por experiência própria na Hungria, e a partir do que ouvi dos
refugiados no Quênia e Sudão, um acampamento de refugiados pode ser uma
ilha isolada. Mas com ajuda da tecnologia, os refugiados podem superar a
divisão e ter acesso a informação, educação, novos conhecimentos e, por
último, uma vida melhor. Eu quero ajudar o ACNUR a trazer a mesma
esperança e oportunidade aos outros – um refugiado de cada vez.
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