Posted: 29 Apr 2011 03:29 PM PDT
Fonte: ACNUR Brasil
Uma parceria inédita entre a Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro e uma empresa multinacional de logística promove a entrada de refugiados no mercado de trabalho. Desde que o acordo foi fomalizado, em maio de 2010, sete pessoas já foram empregadas pela empresa ID Logistics, especialziada em serviços de armazenagem e transporte. Atualmente, quatro refugiados trabalham no quadro efetivo da empresa – todos com carteira de trabalho assinada – e outros já estão sendo entrevistados. A parceria surgiu por iniciativa da gestora de qualidade da empresa, Ana Lúcia Pazó, que soube pela imprensa da existência de refugiados no Rio de Janeiro e do trabalho da Cáritas Rio com esta população. Sensibilizada com a causa, Ana Lúcia entrou em contato com a Cáritas e propôs uma parceria para dar oportunidade de trabalho aos refugiados que vivem no Rio. “Sabemos que muitos deles passaram por processos seletivos, mas quando informavam a condição de refugiado, logo eram eliminados”, diz Ana Lúcia, ao citar a discriminação sofrida por muitos refugiados em busca de emprego. Os refugiados com perfil adequado são previamente entrevistados pela Cáritas, parceira do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) na assistência e proteção a refugiados no Rio de Janeiro. “Possuimos um banco de dados com as habilidades profissionais de cada pessoa. A partir deste perfil, entrevistamos o refugiado e o encaminhamos para o processo de seleção da empresa”, explica a coordenadora do programa de atendimento ao refugiado da Cáritas Rio de Janeiro, Heloísa Nunes. A gestora de qualidade da ID Logistics, Ana Lúcia Pazó, afirma que o desempenho dos novos funcionários é surpreendente. “Percebemos que eles realmente dão valor ao emprego e querem sempre melhorar”, conta. A parceria, que hoje acontece apenas na unidade carioca da ID Logistics, poderá ser expandida. “Queremos abrir nossas portas para refugiados de outras regiões”, conta Ana Lúcia. A empresa, que está sedida em Osasco (SP), possui filiais em diversas cidades brasileiras. A lei brasileira de refúgio garante aos refugiados a emissão da carteira de trabalho, e o contrato deles com a empresa segue os trâmites legais: três meses sob regime temporário com possibilidade de efetivação. Os refugiados têm a carteira de trabalho assinada e, a partir da efetivação, também usufruem dos benefícios oferecidos pela empresa, como plano de saúde e vale-refeição. Há cinco meses na empresa, o congolês Cliffor Manzambi Francisco foi efetivado e já conseguiu uma promoção. Funcionário da área de armazenagem, Cliffor, que é formado em bioquímica, trabalhará como conferente de mercadorias. Antes de ter este emprego, ele passou alguns meses numa firma de pintura. “Estou muito feliz com essa conquista”, disse o refugiado, que está há dois anos e meio no Brasil. Outro exemplo de sucesso é Kembo Ndombasi, também congolês. Antes de ter sua carteira de trabalho assinada, o refugiado de 45 anos morava em uma casa de acolhida sem nenhuma fonte de renda. Agora, ele já paga o aluguel de uma casa e tem ajudado outros refugiados com cesta básica. A gestora Ana Lúcia ressalta que a grande conquista dessa iniciativa é observar a inserção social de pessoas antes discriminadas. “É interessante ver que alguém saiu da situação de ajudado para o lugar de quem ajuda”, afirma. “O acesso ao mercado de trabalho é uma das principais dificuldades enfrentadas pelos refugiados no país, e esta parceria oferece, de forma concreta, uma solução para este problema”, afirma o representante do ACNUR no Brasil, o mexicano Andrés Ramirez. Ele ressalta que o emprego é fundamental para a auto-sustentabilidade dos refugiados e, consequentemente, para sua integração sócio-econômica. A Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro espera replicar a parceria feita com a ID Logistics. Para empresa, os benefícios desta iniciativa são mútuos. “Os refugiados ganham valorização profissional, e a empresa cresce com funcionários motivados e comprometidos”, afirma a gestora Ana Lúcia Pazó. De acordo com a Convenção da ONU de 1951, um refugiado é aquela pessoa que está fora de seu país natal devido a fundados temores de perseguição relacionados a raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opinião política. Também são consideradas refugiadas pessoas obrigadas a deixar seu país devido a conflitos armados, violência generalizada e violação massiva dos direitos humanos. Segundo o Comitê Nacional para Refugiados (CONARE), o Brasil tem hoje cerca de 4.500 refugiados. Desses, 64,5% provém da África, 22,4% de países da América e 10,6% da Ásia. Mariana Soares Muniz, de Brasília (DF) |
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