Foto: Camila Sol
A explosão de manifestações ocorridas em
todo o Brasil também teve profundas repercussões em Minas Gerais, em
particular Belo Horizonte. Diferente do aconteceu em outros estados, o
maior alvo dos protestos foi a Fifa e os Governos Federal, Estadual e
Municipal.
A primeira jornada de manifestações
aconteceu no dia 15 de junho, reunindo oito mil pessoas, que fizeram uma
passeata da Praça da Savassi até a Praça Sete, tendo à frente o Copac
(Comitê Popular dos Atingidos pela Copa), o Movimento Fora Lacerda e a
União da Juventude Rebelião (UJR).
A segunda manifestação ocorreu no dia 17
e reuniu cerca de 30 mil pessoas. Neste ato, foi visível a presença de
grupos de direita, de pessoas ligadas ao PSDB, de skinheads, de P2s,
grupos militares de extrema direita com o objetivo de atacar os partidos
de esquerda e as organizações populares. Ao final desse ato, um
provocador infiltrado rasgou uma bandeira do MLB, demonstrando a clara
intenção de intimidar as lideranças populares.
Ganhar as massas para as ideias avançadas
A partir daí, uma assembleia popular
horizontal, organizada pelo Copac, reuniu milhares de pessoas debaixo do
Viaduto Santa Tereza. Na primeira assembleia, muitas pessoas defenderam
a retirada das bandeiras de partidos de esquerda das manifestações, mas
a maioria rechaçou esta posição, por se tratar de posição
antidemocrática, defendida, inclusive, pela direita e seus meios de
comunicação. Fez-se um grande e rico debate sobre a necessidade de todos
defenderem as bandeiras vermelhas e combater os fascistas, num
entendimento de que os partidos que estavam nos atos não eram
governistas, bem como da necessidade de conversar com os milhares de
manifestantes para esclarecê-los, ou seja, disputar suas consciências.
Essa luta política aberta modificou
radicalmente a organização e a condução das manifestações seguintes. Deu
um rumo às mobilizações e garantiu a vitória da unidade. Nesse mesmo
dia, após a assembleia, todos comprovaram que grupos de provocadores,
fascistas e oportunistas de direita depredavam o prédio da Prefeitura de
Belo Horizonte para responsabilizar o movimento social organizado. Sem
nenhuma presença policial no Centro de BH, quebra-quebra e saques
seguiram-se pela madrugada, reforçando ainda mais o sentimento de que as
manifestações deveriam ser comandadas pelas organizações políticas e
lideranças populares que se reúnem em torno do Copac.
Uma lição aplicada no ato organizado no
dia 20 de junho, que reuniu 40 mil pessoas. Centenas de infiltrados
provocavam os militantes dos partidos de esquerda, insuflavam as pessoas
a agredir os que estavam com bandeiras vermelhas. Um grupo de 30
skinheads neonazistas armados investiu sobre os partidos, mas foram
rechaçados por anarquistas, comunistas, militantes populares e todos os
que condenavam o fascismo.
A repercussão foi tão grande que a
edição do dia 21 de junho do jornal Estado de Minas, comentando sobre a
presença dos partidos nas manifestações o jornal reconheceu a firmeza
dos militantes do PCR, descrevendo-o como “uma organização de esquerda
muito forte no movimento estudantil”, por não ter se intimidado,
respondendo “bandeiras na mão, liberdade de expressão”.
Uma nova assembleia do Copac atraiu uma
presença ainda maior de pessoas, consolidando-se como núcleo de
aglutinação de forças, fortalecendo as decisões anteriores e avançando
nos preparativos para o ato do dia 20, dia do jogo entre México e Japão
pela Copa das Confederações, no Mineirão, quando 200 mil pessoas
participaram da maior manifestação da história de Belo Horizonte. As
bandeiras vermelhas tremulando, todos os movimentos sociais e
organizações políticas de esquerda presentes. Grande unidade popular. O
verde e amarelo predominava, mas todas as cores estavam presentes. A
resposta do Governo foi reprimir violentamente os manifestantes. Outras
100 mil pessoas participaram do ato no dia 26 de junho, dia do jogo
entre Brasil e Uruguai. Na véspera, o governador Antônio Anastasia pediu
reunião de urgência com os presentes do Copac. Uma comissão de dez
pessoas se reuniu com o governador, entre elas, Gladson Reis, da AMES-BH
e da UJR, e Leonardo Péricles, do MLB. Apesar da ampla divulgação dada
pelo Governo, nenhum acordo foi assinado e foi exigido que a PM não
infiltrasse provocadores no meio dos manifestantes.
Diferente do que ocorreu em vários
lugares, em Belo Horizonte conseguiu-se vencer os oportunistas de todo
tipo, sabendo enfrentar as adversidades com unidade popular e
combatividade, respeitando a amplitude e diversidade, mas sem se
descaracterizar sua política de enfrentamento às políticas conservadoras
e neoliberais dos governos constituídos.
Fernando Alves, dirigente do PCR de Minas Gerais